quinta-feira, 30 de abril de 2009

Cena 5

A menina na janela

Elenco: Kéroly, Márcia e Nádia
Objetos: flor, pedaço de tijolo, maço de cigarro vazio e amassado.

Todas do grupo estão misturadas ao público, quando Nádia coloca o pedaço de tijolo nos olhos e chama o público para a entrada da Câmara de Cultura, coloca o tijolo no chão, abaixa-se e começa a olhar pelos buracos dos tijolos.
Kéroly e Márcia estão em pé nas portas, Márcia passa e deixa cair a flor e troca de porta, em seguida Kéroly passa e joga o maço de cigarro e troca de porta, enquanto isso Nádia observa pelos buracos do tijolo, e também chama algumas pessoas do público para olhar também, alguns aceitam e olham.
Márcia passa pega a flor, depois Kéroly chuta o maço de cigarro, limpando o lugar, então Nádia pega o pedaço de tijolo coloca nos olhas e vai para rua.

Acho que foi isso!
Nádia

quarta-feira, 29 de abril de 2009

Tempos Modernos.

Grupo: Danúbia, Ana e Jailson.
*****
Objetos: Garrafa, Tampinha de Garrafa e uma Caixa de Papelão.


O convite ao prazer de assistir as cenas.


Linha de Montagem.
Ao sinal da sirene grupo entra em cena como operários de fabrica. Batem o cartão, representado pelas mãos, e se posicionam na linha de montagem. Ana fabrica a garrafa, Danúbia tampa a garrafa e Jailson embala a garrafa. Essa ação repete duas vezes. Na segunda vez Danúbia fabrica a garrafa, Jailson tampa a garrafa e Ana embala a garrafa.
Ana deixa a garrafa no canto da sala e o som da sirene anuncia o fim da primeira ação.
Os operários batem o cartão e saem pela porta.

*****


Oh PutZ PutZ Peraê!
Grupo entra em cena desta vez como consumidores. Em uma balada eles dançam e bebem. Utilizam e depois inutilizam os objetos.


*****


O Objeto.
Agora como pobres estudantes de teatro o grupo entra em cena, desta vez para encontrar os objetos para aula de teatro.


*****


Fim!


Rocha Farias.






Cena "Sueca"

Feita pelo grupo: Lenir, Lilian, Raíça e Paulo.
Objetos: pedra, garrafa de whisky, pedaço de madeira, potinho.


Todos do grupo começam juntos, encostados através das costas, brincando e fazendo sons com os objetos. Dessa maneira, locomovem-se até o palco, chamando o público para subir junto. O público se acomoda em almofadas que formam um círculo.
Começa uma brincadeira do grupo dentro deste círculo, a partir dos objetos. É preciso acertar a pedra dentro do potinho, que está em cima do pedaço de madeira. Quem errar, dá um gole bem dado na garrafa.
Faz-se uma rodada completa entre os jogadores, até que quando vai-se iniciar a segunda rodada, um dos participantes rouba a garrafa e sai correndo. Os outros o seguem, com exceção de um que fica para trás recolhendo os objetos do jogo.

Issaí!

Besos
Lilian.

segunda-feira, 27 de abril de 2009

A fala sobre o corpo

“A fala sobre o corpo é uma fala-no-corpo sobre o corpo....
Corpo prévio a todo discurso,
porque o discurso é obra – poiética – do corpo-falando”
(Almeida, 2001, p. 27).

Ousemos falar do corpo. Talvez possamos nos arriscar a dizer sobre ele como se fora dele existíssemos ou sendo apenas uma fala provisoriamente sem corpo.
O que é um corpo afinal? Um homem? Como ele nasce? O que ele é? Seu prazer, medo, impulso, seu realizar, sua historicidade. O caso é que ele carrega muito mais do que somos capazes de abarcar, mas importa dialogá-lo, interpretá-lo e torná-lo de dentro-fora-dentro corpo vivo, corpo presente, corpo falante.
E eu sou um corpo! O que sou, fui, foram, há, está impresso em mim e manifesto em corpo. Minha forma, meu gesto, meu riso, meu saber das coisas, meu perceber do mundo, meu dizer no corpo, meu dizer do mundo no corpo que fala aos outros corpos.
Sem pensamento possível que alcance-o, existem palavras que o indicam, no mais: intuição... Poiética! O corpo é, eis o conceito, assim, meu e seu corpo são. Corpo imponderável. Sem linguagem possível que o defina ou que o capture, exceto a linguagem silenciosa dos corpos sendo, existindo, e no vivido dizendo o que, como, quando e porquê são.

Guimarães.

sexta-feira, 24 de abril de 2009

Encontros

O Descobrimento
Meus pés são fantásticos! É impressionante o domínio que eles têm sobre o meu corpo, tantas atividades rotineiras que são impulsionadas pelos pés e, geralmente, não damos valor nenhum a eles. A partir deles posso andar, correr, girar, pular, parar, me equilibrar e até mesmo desequilibrar (esse é mais difícil quando pensado).
A prática do grupo: Um anda todos andam, um para todos param, foi difícil de sintonizar, mas depois de algumas repetições já era possível sentir com naturalidade quando alguém iria parar ou andar. Algumas vezes parecia ter uma freqüência, mas acho que percebemos e começamos a deixar as ações mais espontâneas.
Forças do Movimento
Que o solo possui energia todos sabem, mas sentir essa energia requer concentração, a sensação que nos provoca é maravilhosa, vale muito a pena experimentar.
Retirar forças de diferentes partes do corpo parece idéia absurda, mas funciona, só que para funcionarem bem é necessário muita concentração, é um tanto complicado ficar enraizado com alguém te puxando o tempo inteiro. Nessa prática foi difícil conciliar a mente e o corpo para “vencer” as forças externas.
Trabalhando com a música foi bem notável a sintonia estabelecida entre o corpo e os ritmos. Isso porque era estranho ficar parada em um ritmo agitado e o contrário também acontecia, os movimentos ficavam mais tímidos quando não tinha música.
Sensações
Quando estamos no comando tudo flui melhor. Ao movimentar um boneco ou um objeto podemos pensar em milhões de maneiras diferentes, ousamos. Já quando temos de ser um boneco ou transmitir os movimentos de um objeto, há certo “receio”, são ações não planejadas por nós, coisas que o nosso corpo não está habituado a fazer, por isso é um pouco mais trabalhoso e assustador (na hora de ser um boneco).

Carolina

Quad, Samuel Beckett



diogo

Retratos

I.

.. começamos pelos pés. nosso Atlas. o tocamos, massageando-o; conhecendo-o. fazendo dele algo vivo. (lhes dávamos alma.) mexíamos na massa informe, por cada músculo e osso. estava pronto.

.. o pé vivo ao nosso corpo agora tinha que habitar. precisávamos dar-lhe lugar. (uma origem.) colocávamos os pés no chão para que aquele possuísse esse; para que a árvore abortada se enraizasse no chão de concreto. para que possuísse o fosse possuído pelas energias dali.

.. bola-mundo: o pé movia o corpo. cada gesto nascia do baixo. cada movimento partia do pé.

.. andar corpo-pé.

.. o corpo existia a partir do pé. (!)

***

!com corpos vivos, experimentávamos olhar com o olho da nuca: um anda, todos andam. um pára, todos.

!flechar-se não pára ferir, mas para tocar.

!pega-pega de nomes (tocar-se pela evocação, pela aparição do outro.)

!canto de celebração: A dança dos ventos

: corpo-em-cena: improviso a partir dos movimentos. (!VIDA!)


II.

nascimento da coluna. coluna existindo através do toque - moldar o que existe para que este exista.
espreguiçamento do corpo - no chão, em pé e no a!r.
corpo ancestral: andar do velho japonês: estimulado pelo outro e, em seguida, só. (como se morre.)
enraizamento em dupla (como existir junto? -------)
pendulo (existência em trio)

:(meu corpo vicia ao estar em modo contínuo; na descontinuidade dos movimentos, ouso; mas sem que o corpo pare: as partes ganham autonomia, e o corpo torna-se indivíduo):


III.

§.saudação ao sol
§.respirações . ¬elas se movem no espaço-corpo!
§.manipulação dos objetos. ¬como posso sentí-los além do convencional (?)
§!ser o objeto - mas do modo que o outro o manipula!!!

(à medida que o exercício de respiração acontecia, percebia mais meu corpo. e a pergunta que se fundava era: "como respiro corretamente?" meu corpo respondia à questão, mas não de modo a fechá-la, mas abrindo para outra geografia:

Como eu respiro? )

********

Por que o teatro? (pergunta-britadeira-em-moto-contínuo)

leitura: quais os critérios (?)
leitura: lendo um espetáculo teatral - mosqueando a Gaiola
leitura: vocabulários verbal & gestual.

O que é ler: definições poéticos-dicionárias.

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Obs.1: outro: sou eu
Obs.2: I. 28/03/09; II. 04/04/09; III. 18/04/09.


diogo

O que se pode fazer com um corpo

por exemplo ser... outro.




diogo

terça-feira, 21 de abril de 2009

Virada Cultural

Olá queridos!
Segue o link com a programação da Virada Cultural de São Paulo.
Olhem e aproveitem!

http://viradacultural.org/programacao/

Paula

domingo, 19 de abril de 2009

Video "Doll Face"

Assistam o vídeo, o contexto não tem nada a ver com o nosso processo, mas reparem nos movimentos do vídeo, a caixa que se abre, a alavanca a boneca que sai da caixa e os "braços" dela, existe uma delicadeza na ação e uma clareza na interpretação. espero que gostem!

http://www.youtube.com/watch?v=zl6hNj1uOkY


Rocha Farias.

sábado, 18 de abril de 2009

sexta-feira, 17 de abril de 2009

Gaiola das moscas

Desculpem só agora aprendi a postar, acreditem!

Mas vamos ao que interessa
Simplesmente emocionante, de um lirismo tão distante dos dias atuais e ao mesmo tempo um tema tão atual e universal "A luta pela sobrevivência".
A expressão corporal dos atores nem se fala, existia um fio condutor que os ligava, em parceria com a música, parecia uma coisa só "música, corpo e movimento".
Vi a base nos pés, como aquele exercício que tanto exploramos, vi um trabalho de partitura, o caminhar juntos, o impulso que partia de um ponto e contagiava todo o resto.
Paula você acertou na indicação, pois o espetáculo tem muito do que estamos explorando .

Nádia

Corpo de Baile

47 do segundo tempo.

quase no final do começo do final da semana, venho, por meio desta, executar minha tarefa de casa. pois bem, vamos nós.

começa o espetáculo, os atores já iniciam atrás da cortina. como uma família hospitaleira de uma cidade interiorana que recebe (ou chega?) seus convidados. nos cumprimentam e seus cumprimentos me atraí por uma única coisa: a qualidade da presença. eu via corpos acesos.

eles estancam. olho para cada um e me atento às suas bases: o pé. fincadinho no chão do palco. cada um a seu modo - o que lhes davam individualidade (que provavelmente se reflete no modo que foi construído e constituído o trabalho.) enraizamento.

a peça de fato começa. o homem solta sua voz e sua fala compõe o corpo que a comporta. dançam voz e corpo; a flauta e a serpente.

ainda havia a outra música. esta era externa ao corpo, mas interna a estória (grafia autorizada por moi!) às vezes esta encantava por demais. às vezes, nessas horas, me perdia da estória. mas voltava à ela e lá estava: ainda corpo. ainda a voz.

a briga: uma briga dançada ou uma dança brigada? a fluidez fez o mistério de tostines; o ovo ou a galinha? - silêncio meu.

movimentos variáveis, que se alternavam de acordo com a contação, de acordo com o que a estória pedia. movimentos tensos, repentinamente relaxados, grandes e logo miúdos, frenéticos e de repente: stop.

falem agora (eu comigo, me dizia): e diziam. respiração normal. (que tipo de controle esses "atletas afetivos" alcançaram, dentro de suas trajetórias pessoais e coletivas?) com todo esse corpo de baile, a voz estava lá, nítida, presente. incansável.

uma estória me era contada. e a sei. pergunto-me agora: que estórias podem nos contar um corpo?


diogo

terça-feira, 14 de abril de 2009

Impressões...aquilo que fica marcado

Para alguns dispensadas apresentações, aos demais: olá, sou a kelly, e não fui ao espetáculo, portanto nada posso dizer a respeito dele, mas sim de minha impressão das impressões de vocês. começo parafraseando um professor meu: falamos do lugar onde habitamos, trazendo nos pés a poeira dos outros lugares por onde temos passado, assim as ligações feitas e os incômodos de vocês, ressoam do lugar de onde habitam e de como habitam este lugar, de modo que as leituras tantas do olhar lançado traduzem quem são e de posse de que estão, como viajantes de malas cheias, fazendo trocas nesta viajem, permitindo, que até mesmo eu, porém muito mais os caminhantes de sábado, possam habitar junto. sem esquecer o prazer, vocês transitaram pelos aspectos cênicos, mas em especial, me disseram sobre o que os afetou, "o que isto diz a mim, ao meu mundo, ao meu habitar?", não apenas em texto, mas em obra (corpo, jogo, voz, luzes, platéia). penso ainda que os relatos valem o esforço e oferecem mais "cal" para o processo, é bom levar o entendimento para vasculhar espaços da percepção, não como críticos técnicos, mas como ad-miradores atentos, e é um tanto interessante imaginar o que lá havia a partir de vocês, embora se lá eu fosse não perceberia o mesmo, pois que cá eu ando falando de outros lugares... com abraço.
K.Guimarães

sábado, 11 de abril de 2009

Gente, consegui, finalmente, entrar, obrigada Paula!

Bem, o espetáculo Gaiola de Moscas chamou minha atenção nos seguintes aspectos:
Entrosamento: os atores e músicos em cena pareciam mesmo um bloco só. Como no começo onde cada um se apresentou. Eles estavam entrosados, emaranhados, levados por um objetivo em comum, que deu ao espetáculo, um toque muito especial.
Música: música ao vivo é tudo em um espetáculo né? Que coisa gostosa ver a sonoplastia fazendo parte do espetáculo como se fosse dialogo.
Dança: o movimento da dança nesse espetáculo trouxe um item a mais que mostrou, além de uma dança regional, uma forma de interação de texto, personagem e movimento. Os braços das meninas foram prolongamentos de um momento poético, trouxe leveza, ternura, sonho, sentimento que estavam estampados do sorriso até o dedo que se mexia lentamente.
Comédia: apesar do título do espetáculo nos arremeter ao Gaiola das Loucas, o espetáculo teve uma comédia sutil, desde o escarro milagroso até o momento da apreensão e utilização das moscas nos enterros como as únicas criaturas que pudessem sofrer no velório de alguém, mostrou que pra fazer algo engraçado, não é necessário que a platéia ria o tempo todo. A história teve momentos de critica, reflexão e comédia. Em doses, no meu ver, perfeitas.

Beijos pra todos.
Cristiane

sexta-feira, 10 de abril de 2009

Aspectos da Cultura Popular na Peça "Gaiola de Moscas"

Devo confessar que a “lição de casa” solicitada foi por mim “quase” esquecida quando me deparei na peça “Gaiola de Moscas” com tantos aspectos da Cultura Popular: na linguagem, na dança, na música. Meu olhar se direcionou muito para isso, tão marcante foi na narrativa esse aspecto. Falou mais alto por um momento em mim esse encontro. Em épocas globalizantes, é sem dúvida de grande importância o “resgate” do que é genuíno na terra local e ao mesmo tempo tão esquecida - a cultura popular. Nesse sentido, pontos consideráveis para o trabalho desenvolvido pelo grupo Peleja.

Ainda que o conto adaptado pela peça seja do Moçambicano Mia Couto (genial!) cabe direitinho no repertório do Brasil/sertão, pesquisado pelo grupo. Lembrou-me inclusive, o contexto da peça e da história, que não é por acaso que o escritor Mia Couto é comparado com um nosso outro grande escritor, Guimarães Rosa. Ambos trazem em suas obras poesia e esperança por meio da capacidade narrativa de histórias contadas por seus respectivos protagonistas na dureza da existência humana.

Mas, se por um lado o meu olhar não foi num primeiro momento, tão teatral, no sentido técnico, seria impossível com as vivências que estamos tendo com “a poética do corpo”, (que o meu me faz lembrar a cada final de semana, por meio das dores) não perceber o quanto na proposta do grupo está intensamente presente a expressão teatral corporal dos atores. Acho que de certa forma todos puderam ver algumas vivências que fazemos sendo utilizadas no palco. O corpo “fala” e o ritmo conduz atores e platéia no encontro da narrativa proposta. Em diversos momentos a encenação me lembrava algo meio “brincante”, como se fosse um convite para que brincássemos também; que nos permitíssemos brincar...ainda que a temática não fosse brincadeira, mas isso só pude perceber mais tarde. Em alguns momentos, para mim, a “brincadeira” ficou meio igual e alguns risos diminuíram (inclusive o meu). Isso de forma alguma tira o mérito da proposta e da atuação dos atores; até porque penso que o riso pode não significar muita coisa. Podemos inclusive afirmar: apesar do elemento cômico sendo explorado o universo temático da peça era bem triste.

Penso ser de grande valor a busca por aquilo que cada vez mais em cidades como a que vivemos é esquecido, o brincar o criar/imaginar, bem como o satirizar a miséria da vida na magnitude da possibilidade da existência em condições tão adversas, onde compramos moscas para nosso velório. Não seria uma forma de resistência a pretensão dos personagens em se virar como dá? Quem sabe? Por que não? Ainda que possa ser também, evidentemente, o limite da pobreza e miséria humana. Mas sem dúvida mostra o poder criativo do povo diante da realidade complexa e complicada do viver, frente o descaso das autoridades (poder) para a possibilidade de uma vida digna.

A peça parece mostrar nas entrelinhas a dureza da vida sertaneja que reinventa/cria formas de trabalho, formas de “ganhar” a vida em local onde não é nada fácil viver (Moçambique/Pernambuco-Brasil). Se por um lado isso pode expressar o cômico/criativo (aspectos da cultura popular) por meio do cuspe (para limpar sapatos) e das moscas (para o velório) mostra também a dificuldade pela sobrevivência... a miséria. Essa realidade sem dúvida marca a vida em Moçambique, bem como a do sertão de PE/Brasil, onde o grupo Peleja realiza pesquisa em torno da manifestação popular Cavalo Marinho. Assim como a literatura de Mia Couto, o teatro, me pareceu, tentou registrar e recriar a situação desse povo, por meio de personagens como Zuzé Bisgate e Julbernardo, transformando miséria em foco do poder criativo do homem, que apesar dela, tenta viver, ou seria melhor dizer, sobreviver.

O trabalho de corpo do grupo resgatando o Cavalo Marinho, a meu ver, dialoga muito com essa realidade dura do sertão brasileiro, o que também faz, pelo pouco que conheço a literatura de Mia Couto com a cultura popular de Moçambique; a junção dessas duas coisas (Cavalo Marinho e literatura de Couto) é muito interessante na proposta do grupo. É importante notar e considerar que a brincadeira do Cavalo Marinho no Brasil é feita exatamente por pessoas despossuídas de recursos, a maioria analfabeta, marginalizada; como os cortadores de cana e pessoas que trabalham em feiras; pessoas muito pobres, carentes, mas com uma cultura riquíssima, fabulosa. Podemos dizer, para finalizar, que é uma manifestação humana que sai da mais absoluta falta de recursos, mas que devido ao poder criativo se expande e chega até nós de diversas formas, inclusive por meio de trabalhos teatrais como esse. A proposta do grupo conseguiu expressar algo singelo e sensível, com recursos corporais fortes e intensos.

(Lenir) Lê Viscovini

interrogação

Engraçado o começo do comentário da Cláudia ser sobre o riso. O texto do Mia Couto adaptado para teatro conservou a atmosfera delicada de temas pesados e o trabalho dos atores preservou a qualidade, que se espera cuidadosa, de quando é preciso falar da fome, do desemprego, da pobreza, do desejo inalcançável. O que fica é o ritmo, a música, a presença, o palco, o teatro, mas não a platéia. O incômodo que a arte provoca não foi sustentado, acho até mesmo que não foi apreendido, nem sequer percebido. O que ficou em mim foi uma pergunta: será que a gargalhada (desenfreada, descomedida e desgovernada) precisa ser sempre um sinal de julgamento de gosto?

Raíça Augusto

quinta-feira, 9 de abril de 2009

com os pés, pra entender com o coração.

Imaginem que quem está contando não conhece nada de 'cavalo marinho'. Então, como de fato eu tenho um dominio nulo sobre isso vou dizer sob este ponto de vista.

Por não ter tanta propriedade vou dizer que oque eu senti do que eles fizeram. Daquele balangar de pés agitados, que hora acompanhavam, introduziam, finalizavam a música que recortava as cenas; me foram também uma forma de narrar. Eles provocam uma forma de assistir as cenas com um olhar curioso, que pra mim foi causado por este balangar doce. E a narrativa ganha forma. Ela nos aponta quando a historia e quando o 'narrador' está se colocando, quebrando a parede e convidativamente dividindo um momento com o publico.

Mencionar que o espetáculo é leve, é doce, é sensivel. E a sensibilidade está também nessa disponibilização dos atores para um estado de prontidão da dança-encenada ou da dança-história-narrada. A proximidade com a platéia aproxima. É quase como se fossem contadores de história que atuam, sem aquela barreira de teatro platéia, muito embora o palco estruturado a là italiano estivesse lá.

Me tocou. Me cativou porque eu também chacoalhava na minha cadeira, e sem perceber eu sorria. A única coisa que me incomodou é que o texto tinha ruidos. Não sei se pela espaço, ou pela platéia ou pela terrivel mania que a gente tem que ouvir textos altos e não sutilezas, nos primeiros quinze minutos eu perdia coisas. Depois, já quente, com a plateia já assentada, ficou mais fácil, e eu ouviria, por horas aquela história de moscas.

Kéroly Gritti.

Sobre Gaiola de Moscas

Fui assitir ao espetáculo "Gaiola de Moscas" no último domingo.
Gostei.
Uma história de autor africano transposta para o interior do Brasil e narrada com corpo, dança, voz, instrumentos dos mais diversos e alguns objetos que apareciam apenas na hora em que deviam aparecer.
Gostei das sombras também. A iluminação permitia que o atores e atrizes ficassem pequenos - como são as moscas, talvez - quando na frente de suas sombras gigantestacas projetadas na parede escura.
Gostei de como a música ganhava cena e punha em cena a dança, tão discreta às vezes, em corpos que em grande parte do tempo dançavam sem avisar. Disso eu gostei muito: de como os corpos transitavam do dançar para o não-dançar ou faziam o caminho contrário de forma sutil.
Como ponto alto escolheria a coreografia da luta entre Zuzé e o Pinta-Bocas, assistida pelas mulheres que ora intervinham ora choravam. As imagens saltavam da cena! O ritmo bem casado entre a música, os passos e gestos, e a história da briga que se narrava permitiam esse efeito.
A descontração e o humor ao narrar nos faziam rir de nós mesmos, que compramos também cuspes para lustrar nossos sapatos, batom para pintar as bocas e até moscas para voarem, cantarem, chorarem ou desmaiarem no nosso enterro. Compramos quando quem nos vende vende bem. E vendemos também o que for - nossa saliva, nossa batom, os préstimos de nossas moscas - quando se faz necessário.
Por essas e outras, gostei.

Raquel Zanelatto

quarta-feira, 8 de abril de 2009

IN imaginário

A peça literalmente intrigante me despertou a curiosidade de conhecer a história contada por Mia Couto, Gaiola de moscas. A transposição do texto literário para o teatro é sempre muito diferente das “intenções’” do autor para com o leitor. (aconteceu com Clarice Lispector). Pesquisei na internet mas não encontrei o texto...quem tiver por favor!

As imagens quentes do espetáculo, os movimentos e as musicas me inspiraram para um mundo “IN imaginário” todos os momentos da peça me fizeram rir, mas existe uma tragédia oculta no contexto. A pobreza, a sobrevivência, tudo remetia um vilarejo “nordestino” onde existe miséria.

Os corpos em cenas eram mágicos, acho que é isso que devemos absorver: a qualidade, o jogo em cena...

Rocha Farias.

terça-feira, 7 de abril de 2009

qualidade dos movimentos

Um detalhe: as moscas eram presas por uma redinha por isso não "avoavam".
De fato a peça me fez rir, embora concorde que nem tudo era necessariamente engraçado e se nos "apercebermos" bem, chega até a ser um pouco triste todo aquele universo sertanejo.
O que a peça deixa de importante é sua poética do corpo em cena, sim, justamente isso. Nos trás elementos de corpo que estamos exatamente vivenciando em nossa oficina. Observar a qualidade dos movimentos nas cenas da peça é de grande valor e deve de ser bem guardado em nós, como mais um repertório de espectador.
Creio ser isso meu comentário, ou seja, para que fiquemos atentos à qualidade dos movimentos corporais, a partir daí, dessa observação de espect-atores, poderemos ter mais criatividade para por em experimentação os exercícios que fazemos, explorar mais e mais e sempre. Fim
bjo tchau
Danúbia

segunda-feira, 6 de abril de 2009

Estou até agora regurgitando o Gaiola de Moscas


Confesso que sai do espetáculo um pouco frustrada porque ouvia demoradas gargalhadas que não eram minhas. E pensei que a peça havia sido muito divertida e portanto eu havia perdido a oportunidade de rir até o fim. De fato dei sinceras e boas gargalhadas nos primeiros dez ou quinze minutos, mas depois parece que a extraordinária performance dos atores e a narrativa burlesca e divertida dos personagens já não fazia nenhum efeito sobre mim.E explico porque.
Primeiro quero deixar claro, antes que me execrem, que esse meu relato não significa jamais uma crítica em relação à indiscutível qualidade da peça, ao desenvolvimento dinâmico da narrativa, ao extraordinário domínio de corpo dos atores, à estruturação do enredo ou das cenas ou qualquer outra coisa que valha a respeito da inegável qualidade técnica da obra. Até porque eu não teria elementos ou base para isso. Mas creio que todos nós que fomos ver pudemos reconhecer , no tom geral do espetáculo, uma conexão com vários aspectos e conceitos sobre a formação do ator suscitados no trabalho da oficina .Claro que eu não saberia levantar agora assim, de cara, nesse exato momento, quais aspectos seriam esses, mas que los hay, los hay e tenho certeza que alguém o fará ( aliás, não era essa a proposta?)
Apenas falo de uma experiência de espectador. Falo mais do que de uma experiência, falo de uma perplexidade: fiquei parada nas imagens que a metáfora do título haviam me sugerido: Gaiola de Moscas. Gaiola de moscas ...! Gaiola de Moscas ?????????????????????????????????????????????????????????????????????????
O que esperar de um espetáculo com esse nome ? Uma idéia genial. Era como se essa idéia por si só construísse uma intrigante e curiosa metáfora e qualquer argumento, narrativa, ou situação representada estivesse aquém dessa idéia maior, misteriosa e soberana. Fiquei assim parada, pensando; o sujeito com a gaiola na mão (acho que pode ser que tenha perdido o fio da meada do espetáculo, vai ver a coisa é assim, menos filosófica, entende...). 
Mas, eu, se fosse diretor, parava a cena por ali. Porque imagina com que propósito um ser prenderia moscas, como passarinhos, numa gaiola... Pode imaginar a cabeça desse sujeito ? A quantas anda ? E mais ainda, pensando numa gaiola, gaiola, gaiola dessas que a gente conhece ( a mesma da mão do personagem, igualzinha a uma daquelas) por que não fugiriam as moscas pelas frestas ?
Vendo o argumento do espetáculo, a questão até parece se resolver na estrutura anedótica da narrativa e na caracterização dos personagens muito associada à figura do anti-herói.
Zuzé Bisgate, por exemplo, é cuspido e escarrado ( literalmente) o Pedro Malasartes. Uma espécie de espertalhão popular que acredita poder driblar com sua sagacidade e argúcia, as vicissitudes de um cotidiano humilde e difícil. Junto com sua mulher e o vendedor de batons boca loca ( o Victor Valentim de Pernambuco)representa o herói popular criativo e malicioso que dá um jeitinho brasileiro em tudo para se safar da pior.Mas não é um sujeito ruim, pelo contrário, ainda conserva a inocência e o sonho das criaturas , cuja identidade ainda está marcada por valores genuínos advindos de uma cultura tradicional .A linguagem , os costumes e comportamento dos personagens constroem em torno deles um imaginário mítico, quase surreal.Assim é que pode parecer factível viver de engraxar sapatos com cuspe e engaiolar moscas para vender em funerais.
Mas, mesmo assim, a idéia de uma Gaiola de Moscas parece velar, detrás de si outras possíveis metáforas, que de fato, não consegui apreender, mas intuo que possam existir. Se as moscas , mosquitinhos e tais são vendidos a precinhos baratos para nos fazer companhia no velório, minha fértil imaginação pode antever as barrinhas de metal do semi-circulo onde outrora cantavam passarinhos se transformarem em frágeis vertebrazinhas e costelas toráxicas sendo invadidas por minúsculos canibaizinhos de asas.
E a idéia de termos, ao invés de corpos, gaiolas em cena não me parece ser muito engraçada...

Claudia Sarro