terça-feira, 7 de julho de 2009

DO ENCANTAMENTO AO PAVOR

DO ENCANTAMENTO AO PAVOR

É assim que Pirandello qualifica a sua última obra, «Os Gigantes da Montanha», quando está ainda a meio caminho no seu trabalho de escrita.

Humorous/Tragedy, este oximoro anuncia já uma tonalidade paradoxal, uma combinação de sombras e de luz, de encantos e crueldade.

Cotrone, o mágico poeta, porta-voz de Pirandello, convida-nos, do crepúsculo até à madrugada, no espaço duma noite, a rasgar a trama do tempo que passa. O seu território é uma «casa céu». Se se passar a porta, penetra-se num vasto quarto escuro, câmara de eco, lugar de todos os sortilégios.

Para provocar a travessia das aparências e o aparecimento da verdade escondida no fundo de cada um de nós, torna-se encenador. O teatro dele, o seu palco, é o inconsciente, diverte-se a fazer com que o Ser e o Parecer se confrontem.

Chega mesmo a fazer reluzir a tentação de se desfazer o parecer para sempre, em proveito da total liberdade do ser. O seu jogo: desembaraçar o impulso vital, reconhecer a pulsão da morte, aceitar os desejos escondidos «nas cavernas do instinto».

O subterfúgio é tanto mais eficaz quanto os seus hóspedes de uma noite são actores. São sete actores, últimos elementos de uma companhia desgastada, arruinada, com falta de um público para quem representar.

Ser e parecer, entre estes dois pólos oscila, precisamente, o trabalho dos atores. Cotrone lembra-lhes que a essência da arte está contida nos jogos dramáticos ou nos jogos divertidos da infância. Acreditar, abandonar-se como as crianças: então tudo se torna possível. E prova-o: in vivo.

Mas no nosso pobre mundo, aquele que Cotrone abandonou há muito, é o princípio de realidade que prevalece. Uma companhia de teatro, fixa ou itinerante, precisa do público para viver e para sobreviver.
Esta história expõe-nos o conflito trágico entre as razões irreprimíveis da arte e uma sociedade onde a arte já só tem a justificação do mercado.

Apesar do seu lado utopista e marginal, o mundo de Cotrone e dos seus amigos, os Scalognati, oferece, todavia, traços do real; é um mundo onde se exprime um certo realismo místico, um realismo mágico, e sobre tudo, um realismo metafísico.

Àquela fugitiva tentação de abandono, de renúncia, Ilse Paulsen, a grande actriz caída, resiste. Partirá, sozinha, para enfrentar os «Gigantes», enquanto as últimas palavras da peça ficam a ressoar de pavor no meio do ruído crescente: «Tenho medo, tenho medo…»

Será preciso segui-la até ao fim?
Será preciso prestar atenção ao aviso de Cotrone?
Será preciso vencer, ou ceder ao medo dos «Gigantes»?
Porque, finalmente, quem são aqueles «Gigantes»?
O «grande Outro»? As figuras impossíveis de olhar dos nossos medos ancestrais?
Uma parte de nós mesmos…
Os Gigantes da Montanha
No limite das forças, depois de uma infinita série de fiascos, uma companhia de actores chega a um lugar nso confins do mundo, habitado por um grupo de marginalizados, uns pobres, fora da história.
Este, o mote da peça de teatro 'Os Gigantes da Montanha', da autoria de Luigi Pirandello, que o encenador e cenógrafo italiano Giorgio Corsetti apresenta, até 11 de Outubro, no Teatro Nacional de São João.
Neste palco extremo, explica Corsetti, a representação dos atores confunde-se com a sua vida desesperada e todas as misérias existenciais escondidads são desveladas. Aqui pode ser interrompida, por um momento, a série de actos falhados de amor a que a vida obriga e todas as pulsações e sonhos ganham vida na verdade absoluta do teatro.
O mago Cotrone é o orquestrador desta matéria terrível e incompreensível do imaginário e do desejo arrebatador, livre e anárquico, em equilíbrio sobre o abismo donde espreitam as enormes e estólidas cabeças dos Gigantes, grandes ordenadores da matéria, devoradores do tempo.

2 comentários:

  1. APENAS ALGUNS COMENTARIOS ENCONTRADOS NA INTERNET SOBRE A OBRA. ACHEI INTERESSANTE E RESOLVI POSTÁ-LA. SEM QUERER COADUNAR COM A OPINIAO MANIFESTADA.

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  2. Ótimo! Acho que estas primeiras pesquisas são um ótimo começo para a nossa pesquisa!
    Beijos
    Paula

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