sexta-feira, 27 de novembro de 2009

Encontro do dia 21/11/09 - Sábado

Espaço: Memória (E isso não é somente a indicação simples de onde estávamos)

Usamos a percepção dos ossos do próprio corpo como um começo do trabalho corporal. Desde os dedos do pé até o crânio, passando por toda a coluna e todo o resto. Deitados no chão, começamos a perceber como estamos apoiados, o que a nossa respiração traz de abertura, conforto ou o contrário. Sempre de olhos fechados e atentos.

Aos poucos, começamos a nos movimentar, se espreguiçando, relaxando o que estava tenso e acordando o que ainda dormia. Começando a dinamizar mais: o desafio era procurar contorções no corpo, oposições e, principalmente, encontrar movimentos e posições que nunca fizemos antes (o que exige coragem, soltura e percepção de quem participa...difícil e muito gostoso!). Também demos espaço aos sons, abrindo ainda mais a respiração.

Daí pra frente, como bem conhecemos, foi um crescente de movimento e expansão e ritmo. Percorremos todos os planos, formigas começaram a pinicar o corpo inteiro e jogá-las fora é como jogar toda aquela resistência que a gente tem pra se entregar, ou pra acordar, ou pra fazer o que mais nos tira do lugar confortável. Cansativo. E energizante.

Entramos em contato com uma outra pessoa. Mas não era qualquer uma e sim, aquela com quem ainda não trabalhamos muito. Interação e, mais uma vez, coragem e entrega pra esse exercício.

Quem surgiu depois foram as figuras do "gigantes". Ligar de novo aquele motorzinho que ficou um tempo parado, sentir o que ficou daquele ser, o que ele trouxe de novo. Mais ainda: ver você mesmo retratado pelo outro, se conhecer de novo, pescar o que pode ser interessante. E claro, a generosidade necessária para ser o espelho, para dar vida à vida desse seu novo par.

Encontramos outras figuras e conversamos com nossas palavras do texto. E as palavras verbais ou corporais (como no meu caso), seriam na peça pedaços de momentos diferentes. Mas ali, era uma coisa só, muito verossímil, porque estamos no mesmo mundo, queremos interagir, e todos os personagens tem as suas múltiplas nuances, boas e ruins.

Essa relação ficou guardada como um segredo, uma coisa especial entre dois personagens que talvez nem se encontrem na história que contamos, mas que continua existindo, e com isso talvez possamos sair um pouco da preocupação com quem eu sou, pra descobrir uma intensidade na outra figura também.

Daí, fomos para o "Gigantes" como ele está formado, tentando acrescentar aquela "dica" pro público de quem são esses estranhos que estão em casa e quem são esses estranhos que chegam. Passamos toda a peça e ao final não comentamos e nem ouvimos comentários. E no entanto, sei que todos nós ficamos com as próprias impressões e que estas talvez não sejam as melhores do mundo.

A oportunidade de apresentar de novo e ter mais encontros abre também a possibilidade de descobrir e elaborar coisas sobre esse universo que escolhemos. Ganhamos tempo pra deixar amadurecer as idéias e as sensações. Acordar o que gostamos desse texto, o que somos com ele.

Tomados de um certo choque, fomos para a rua e novamente nossos figurinos ou partes dele foram conhecer a cidade. Ali, os desafortunados teriam que mostrar toda essa poesia do seu mundo e os atores, contar a sua situação degradante e a sua história. Para cada pessoa foi uma coisa, boa e ruim, e prefiro comentar até aqui só.

Pós almoço, usamos as bolinhas de tênis cheias de dor...e de prazer também. Dá pra sentir o que é deitar realmente no chão. Estar afundado. Os sons exprimiam a dor, vibravam a bolinha e todo o corpo. De repente surge uma voz condutora diferente, uma voz masculina, que começa aos poucos a abrir possibilidades musicais.

Fizemos duas sequências minimais, terminando em um ritmo divertidíssimo de balada louca que a gente criou...música que nunca existiu e nem vai existir de novo, por isso o momento conta muito e empolga tanto. O bom é que sempre vai dar pra criarmos algo novo, cada um com a sua singularidade que completa o grupo. Ouvir o outro, sentir o outro e sustentar o outro. Ficam aí as sábias palavas que o Ronaldo nos deu.

Um abraçíssimo,

Lili

quarta-feira, 18 de novembro de 2009

da poética ao espaço

''A gente se deu tão bem, que o tempo sentiu inveja, ele ficou zangado e decidiu que era melhor ser mais veloz e passar rápido..."

O segundo encontro extra do dia 14/11 começou leve e quente. Ainda não estamos todos, mas estamos, firmes e fortes, com o corpo que acredita na poética, na ação e na cena.
Alongamos em duplas, pra lembrar de tudo que temos de repertório juntos. Grandes, pequenos, próximos. O ritual da preparação para o trabalho é sempre gostoso e confortável, preciso dizer; respiração sagrada.

Pro chão. Um deitado do lado do outro; um poético surfando em cima de outros poéticos. Como o grupo se organiza para levar o outro que está por cima? Divertido, um divertido do grupo, um divertido onde todos os desafortundos riam juntos, os leves, os pesados, todos.

Daí, mãos num buraquinho da clavícula, até que o corpo não resiste e se entrega ao chão. Onde a respiração vai, como abrir mais espaços, como acalmar a inquietação da semana para prestar atenção em algo tão sutil, é abrir espaço para a poética passar. As costelas que se expandem para o ar entrar e circular. Trabalho difícil e delicado, sensível.

Para o texto. Em roda, com os textos nas mãos, lemos a primeira parte do espetáculo, tomando conto de novo com nosso personagem, com suas falas e suas respirações de texto. Juntos, batemos o texto em movimento num jogo que se tornou uma apressada dança das cadeiras. Quem perdia pagava a prenda do trabalho: abdominal. Rápido, ritmo. Lembrar da urgência que o texto pede, e onde pede. Lembrar de esquecer como falar o texto e brincar de novos jeitos. Lembrar de brincar. Brincar de lembrar, e esquecer.

Uma apropriação do texto, trazendo ele pra ponta da lingua e nos lembrando qual era o espaço nele que a gente podia respirar e criar sub-conversas, sub-textos. E deste estudo, separados em grupos, voltamos ao texto modificado e ao original para tentar entender o que do texto poderia ser aprimorado para que o texto chegasse mais ao público. O que o Pirandello não teve tempo de revisitar, o que nesta nossa maneira de contar o texto, pode ficar mais claro? A difícil tarefa de dirigir.

Após o almoço, levamos nossos figurinos para passear e participamos do Cortejo que deu início ao Cena Aberta (evento do qual honradamente participaremos no último dia!). Os grupos, e os artistas da cidade encontraram-se, coloridos, pra levar a arte para dar uma volta na cidade, chamando o povo pra olhar. Lá estávamos coloridos e calorentos, Spizzi, Quaquèo, Mara-Mara, Madalena. Foi bonito ver as nossas cores andando pela rua. Exercício bom, exercício que dá orgulho de contar. Estávamos e fizemos, ação: a poética do corpo na rua.
Faltou Ronaldo sábado, mas a gente espera ansioso pra que ele apareça esse sábado, e contamine a todos com aquela inquietação batucante que tanto nos cativa.

Só não esqueça. Inspirar em 4, segurar em 2, e soltar...

terça-feira, 10 de novembro de 2009

gigantes ou poéticos?

Uma retomada dos Gigantes e, sobretudo do processo que se não nos fez verdadeiros Gigantes é porque entendemos bem "a farsa" que é ser um Homem Gigante em Pirandello...
Um encontro de poéticos, isto sim foi o último 07 de novembro na Camara.
Desafortunadamente nem todos estiveram presentes.
Cá estou para registrar, feito uma gigantilariada, o processo do ultimo encontro.
Se poderei ser fiel ao registro disso não tenho certeza. Ando meio cansada do trabalho gigantesco que tenho me envolvido, fosse os dias a poética do corpo em cena, não estaria dizendo isto.
Mas quanto a mim, não importa.
Vamos ao que rolou:
A respiração permeou todo processo bem como os sons, o caminhar, o texto, a palavra, a brincadeira, o corpo como instrumento.
Aquecemos todos esses aspectos..abrimos percepções.
As palavras do texto sendo escutadas com os olhos fechados, os diversos ângulos de escuta e encontro com o texto. Uma pesquisa dos sentidos e do texto.
O texto nas línguas (chines,russo, árabe, italiano, alemão...) Exercícios, processos que o texto passou. Lapidação.
As massagens dos sons (o corpo como instrumento, coluna=piano) o que conhecemos;
O calcanhar que inspira e o Joelho que expira; exercícios, exercícios gente.
Brincadeira do Cego com partes do texto, percepções, abertura para novas escutas e sentidos.
já disso tudo isso! Basta!
Deixo agora o registro das Impressões Imagéticas do Texto trabalhado das formas supracitadas. Registro esse que cada um dos presentes deixou sobre as imagens que aludem a experiencia no processo, confesso que ñ pude anotar tudo nos detalhes que cada um disse, mas vai aí fragmentos:
- DIVERTIDO, COLORIDO, CUMPLICIDADE, SENSAÇÃO DE LIBERDADE, PERMISSÃO E UMA PROPRIEDADE DAS POSSIBILIDADES DO TEXTO, COISA DE OUTRO MUNDO, ATMOSFERA LÚDICA, BRINCADEIRA E JOGO RÁPIDO, VERSATILIDADE PARA PERDER A TIMIDEZ, JANELA QUE SE ABRE E UMA CORTINA QUE APRESENTA AS POSSIBILIDADES.

A parte Ronaldo foi muito criativa, fizemos um baita som..
E lembre-se Ouvir, Sentir e Sustentar!
Mais uma vez lembre-se respire em 4, segure e solte. anotem!
Até Sábado


Com amor,
Danúbia

segunda-feira, 26 de outubro de 2009

Apresentação "Os gigantes da montanha"


Apresentação no Teatro Elis Regina

sexta-feira, 16 de outubro de 2009

quarta-feira, 2 de setembro de 2009

quarta-feira, 26 de agosto de 2009

sobre o corpo II...

"Somos ainda demasiadamente reféns de um conceito de corpo como parte visível, carnal, muscular e óssea da pessoa. Mas já sabemos que a vontade que anima o sujeito, a condição de seu espírito, suas emanações, o arfar de sua respiração, o pulso e o tônus e sua fala, o modo como integra o espaço e habita, o objetivo de suas ações são também corpo." (p.30)

SETTI, Isabel. "O corpo da palavra não é fixo deixa-se tocar pelo tempo e pelos espaços" In Revista Sala Preta. Número 7 - 2007. Departamento de Artes Cênicas - ECA USP.

quarta-feira, 12 de agosto de 2009

sobre o corpo...

" Ao invés de lutar contra as limitações ou ocultá-las, aprender a ver
nelas o resultado da minha história. (...) Tudo o que posso e
o que não posso fazer, é o que me compõe. Encontrar as
marcas de minhas alegrias e tristezas, as impressões, as
cicatrizes. Ver em sua própria estrutura a reprodução de uma
mega-estrutura chamada Universo. Percorrer os próprios
vales, rios, montanhas, grutas que se tem dentro de si.
Assimilar o movimento cósmico, o eterno movimento da
energia e saber que como sentimento também é assim, que
os sentimentos estão sempre se transformando. Praticar
então o desapego."

VERDI, MARIA LIGIA FERREIRA. O Butô de Kazuo Ohno. Linha de pesquisa: Teoria e história do Teatro. Tese defendida no ano de 2000 na Universidade de São Paulo, sob a orientação do Prof. Dr. Sábato Antonio Magaldi.


Paula

quinta-feira, 6 de agosto de 2009

frase de Pirandello

" É preciso haver um caos dentro de si, para gerar uma estrela dançante!"

sexta-feira, 31 de julho de 2009

quinta-feira, 30 de julho de 2009

Fragmentação e Ruptura: formas de duplicação em "I Giganti della Montagna"


Aqui tem uma tese de mestrado sobre "Os Gigantes da Montanha". Tem muitas coisas interessantes, desde uma rápida passada pelas obras do Pirandello, até uma análise mais profunda das personagens Cotrone e Ilse.

http://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/8/8148/tde-08112007-145809/

No final da página, tem o link para o download, em formato pdf.


Beijos,

Lilili

A CRIAÇÃO ENTRE O NADA E A PERENIDADE

Aqui vai mais um link em que encontrei um ensaio sobre a obra de Pirandello.
Esse tem como tema central o metateatro e estabelece um paralelo entre Os Gigantes da montanha e A Tempestade, última obra de Shakespeare. Ambas abordam temáticas como a persistência da arte perante a brevidade da vida e a porção de ficção que há na realidade.
Acho que vale a pena conferir!

http://www.uel.br/pos/letras/terraroxa/g_pdf/vol14/TRvol14a.pdf

Raquel

terça-feira, 7 de julho de 2009

DO ENCANTAMENTO AO PAVOR

DO ENCANTAMENTO AO PAVOR

É assim que Pirandello qualifica a sua última obra, «Os Gigantes da Montanha», quando está ainda a meio caminho no seu trabalho de escrita.

Humorous/Tragedy, este oximoro anuncia já uma tonalidade paradoxal, uma combinação de sombras e de luz, de encantos e crueldade.

Cotrone, o mágico poeta, porta-voz de Pirandello, convida-nos, do crepúsculo até à madrugada, no espaço duma noite, a rasgar a trama do tempo que passa. O seu território é uma «casa céu». Se se passar a porta, penetra-se num vasto quarto escuro, câmara de eco, lugar de todos os sortilégios.

Para provocar a travessia das aparências e o aparecimento da verdade escondida no fundo de cada um de nós, torna-se encenador. O teatro dele, o seu palco, é o inconsciente, diverte-se a fazer com que o Ser e o Parecer se confrontem.

Chega mesmo a fazer reluzir a tentação de se desfazer o parecer para sempre, em proveito da total liberdade do ser. O seu jogo: desembaraçar o impulso vital, reconhecer a pulsão da morte, aceitar os desejos escondidos «nas cavernas do instinto».

O subterfúgio é tanto mais eficaz quanto os seus hóspedes de uma noite são actores. São sete actores, últimos elementos de uma companhia desgastada, arruinada, com falta de um público para quem representar.

Ser e parecer, entre estes dois pólos oscila, precisamente, o trabalho dos atores. Cotrone lembra-lhes que a essência da arte está contida nos jogos dramáticos ou nos jogos divertidos da infância. Acreditar, abandonar-se como as crianças: então tudo se torna possível. E prova-o: in vivo.

Mas no nosso pobre mundo, aquele que Cotrone abandonou há muito, é o princípio de realidade que prevalece. Uma companhia de teatro, fixa ou itinerante, precisa do público para viver e para sobreviver.
Esta história expõe-nos o conflito trágico entre as razões irreprimíveis da arte e uma sociedade onde a arte já só tem a justificação do mercado.

Apesar do seu lado utopista e marginal, o mundo de Cotrone e dos seus amigos, os Scalognati, oferece, todavia, traços do real; é um mundo onde se exprime um certo realismo místico, um realismo mágico, e sobre tudo, um realismo metafísico.

Àquela fugitiva tentação de abandono, de renúncia, Ilse Paulsen, a grande actriz caída, resiste. Partirá, sozinha, para enfrentar os «Gigantes», enquanto as últimas palavras da peça ficam a ressoar de pavor no meio do ruído crescente: «Tenho medo, tenho medo…»

Será preciso segui-la até ao fim?
Será preciso prestar atenção ao aviso de Cotrone?
Será preciso vencer, ou ceder ao medo dos «Gigantes»?
Porque, finalmente, quem são aqueles «Gigantes»?
O «grande Outro»? As figuras impossíveis de olhar dos nossos medos ancestrais?
Uma parte de nós mesmos…
Os Gigantes da Montanha
No limite das forças, depois de uma infinita série de fiascos, uma companhia de actores chega a um lugar nso confins do mundo, habitado por um grupo de marginalizados, uns pobres, fora da história.
Este, o mote da peça de teatro 'Os Gigantes da Montanha', da autoria de Luigi Pirandello, que o encenador e cenógrafo italiano Giorgio Corsetti apresenta, até 11 de Outubro, no Teatro Nacional de São João.
Neste palco extremo, explica Corsetti, a representação dos atores confunde-se com a sua vida desesperada e todas as misérias existenciais escondidads são desveladas. Aqui pode ser interrompida, por um momento, a série de actos falhados de amor a que a vida obriga e todas as pulsações e sonhos ganham vida na verdade absoluta do teatro.
O mago Cotrone é o orquestrador desta matéria terrível e incompreensível do imaginário e do desejo arrebatador, livre e anárquico, em equilíbrio sobre o abismo donde espreitam as enormes e estólidas cabeças dos Gigantes, grandes ordenadores da matéria, devoradores do tempo.

domingo, 5 de julho de 2009

França no Brasil


Estão todos convidados!

terça-feira, 30 de junho de 2009

A Dúvida de Pirandello

Pessoas, para começarmos a nos aquecer...

Segue o link de um texto sobre Pirandello, que eu achei interessante postar pois apesar de usar exemplos de outros textos dele, ressalta características presentes no "Gigantes da Montanha". Sem contar que começa falando sobre a morte de Pirandello, momento em que ele escreveu a peça com que vamos trabalhar.

http://www.germinaliteratura.com.br/teatro_outubro05.htm

Boas leituras!

Raquel

sexta-feira, 19 de junho de 2009

a prosapoética da mentecorpo

A gente não tem um corpo, a gente é um corpo.

Mente X Corpo. A mente que briga com o corpo, que se separa dele. Aquela mente que pensa enquanto anda, e do andar, só andar. Um corpo que anda. Um corpo que é só uma estrutura, a carcaça na qual a minha alma se instalou pra uma vida. Distância, corpo é coisa de quem dança, e ainda assim, eu danço pra me sentir bem enquanto danço. Aí, a mente de novo tomando a frente e fazendo a carcaça se movimentar em prol do que ela deseja. Se mente deseja, corta o processo do corpo, e pára, se ela deseja, manda que o corpo se cale. "É uma fila de banco, corpo, aqui não é lugar pra dançar".

Mente + Corpo. Iniciamos um processo de abertura. Expansão. Abrir espaços. Afinal, porque meu corpo se sente tão cansado? Ah, falta de ar. Respira. Deixa os espaços que existem no seu corpo serem usados para o que eles podem e devem ser. Não ignore seus ossos, não ignore seu peso. Experimenta, porque é preciso ter vontade de experimentar o meu corpo pra ver até onde ele pode ir. "Quer mexer?". Até onde ele se cansa? Até onde ele consegue? Até onde é gostoso, e a partir de onde deixa de ser? Onde mora a curiosidade da mente de saber mais de si mesma?

MenteCorpo. O ar entra, às vezes eu noto, às vezes não, mas meus espaços já estão disponíveis. E se não estou, se estou tensa, reconheço; entendo e dou espaço pro corpo chegar. A mentecorpo já se respeita no desejo de permanecer, de esticar e de achar o conforto. E quando é preciso, a mentecorpo se provoca. É feito brincadeira de criança. Hora funciona bastante, hora perde o eixo. Mas a mentecorpo entende, doce de si, ri e continua.

A mente diz para o corpo que vai trazer suas experiências e suas curiosidades pra somar com os seus. O corpo, tímido na falta (que não faz) do verbo, de verbalizar, diz que aceita a brincadeira. Mas que às vezes quer brincar com música, ás vezes quer brincar com o silêncio.

mentecorporalmente,
Kéroly.

quarta-feira, 10 de junho de 2009

segunda-feira, 18 de maio de 2009

Performance ou Happening ?












































Virada Cultural Parque da Luz 2009



A dos Wayra Ñan é pra lá de pós-moderna


A performance, art performance ou performance artistística é uma modalidade de manifestação artística interdisciplinar que - assim como o happening - pode combinar teatro, música, poesia ou vídeo. É característica da segunda metade do século XX, mas suas origens estão ligadas aos movimentos de vanguarda (dadaísmo, futurismo, Bauhaus, etc.) do início do século passado.
Difere do happening por ser mais cuidadosamente elaborada e não envolver necessariamente a participação dos espectadores. Em geral, segue um "roteiro" previamente definido, podendo ser reproduzida em outros momentos ou locais. É realizada para uma platéia quase sempre restrita ou mesmo ausente e, assim, depende de registros - através de
fotografias, vídeos e/ou memoriais descritivos - para se tornar conhecida do público.

Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.



Semana passada vinha eu trotando distraída pelas ruas do centro quando ao longe fui atraída pela estranha sonoridade de uma música eletro-mística . Ao me aproximar do local, na praça em frente à Igrejinha da Marechal, me deparei com uma performance pra lá de pós-moderna.
Índios vestidos com exuberantes penas e colares, em frente a um teclado e a uma parafernália de fios, além dos típicos instrumentos como flautas de bambu e outros penduricalhos percussivos animados ao ritmo dos pés, cantavam xamânicas canções ao microfone, enquanto um indiozinho, dançava, à maneira de um ritual, em volta de uma cesta forrada de notas de reais.
Uma família inteira (incluindo, além dos jovens músicos, um bebê pendurado às costas de uma mãe-índia e uma sábia anciã), vendia, a gorjetas irrisórias, a tradição ancestral dos índios equatorianos do Caminho dos Ventos.
As mulheres ofereciam aos curiosos transeuntes que se aglutinavam para assistir ao exótico espetáculo, além dos CDs dos artistas, objetos rituais banalizados nas esotéricas lojinhas da cidade, como a teia dos sonhos para afastar os maus espíritos oníricos.
E ainda quem quisesse tirar uma foto com o indiozinho acionando a câmera do celular, talvez ainda pudesse, com o consentimento deles, roubar a alma dos índios...


Claudia Sarro




domingo, 17 de maio de 2009

A fabulística saga de paixão e dor de duas bundas

Faço a minha primeira postagem com o propósito de registrar um momento do trabalho que, a meu ver, se revestiu de uma qualidade específica no que tange a propriedade instrumental.
Todos certamente se lembram que a orientação dada pela Paula para o improviso do sábado 16/05 foi a de utilizar o corpo como elemento poético da cena (obviamente, bem a propósito), enfatizando que não se deveria usar a palavra. Pois bem, logo com a primeira dupla (Caroly e Nádia), o que vi foi a apresentação tácita de dois corpos interagindo no espaço/tempo, aproximando-se, distanciando-se, ladeando-se, opondo-se, etc; e, me pareceu, com uma consciência muito clara das atrizes, uma adesão simples e eficaz a um possível limitado, mas dinamizado por uma reverberação interna. Quando, então, não mais que de repente, uma almofada cai do céu. E adivinhei só o que elas consideraram que aquilo fosse? Sim, isso mesmo: uma almofada! Ipso facto, as duas atrizes avançaram com suas respectivas bundas, sintomaticamente, para aquilo que agora era o objeto de seus desejos e, vupt!, a trama estava criada: DUAS bundas e UMA almofada. Sublime! Aí então (ajudem-me a lembrar os fatos), houve uma disputa pela posse da tal almofada, uma disputa corporal sem palavras mas com muita intenção, que foi vencida pela Caroly. Mas eis que, antes que a Nádia esboça-se sua reação, surgiram mais duas almofadas. Nádia, então, avançou para uma delas garantindo o seu quinhão, mas, é claro, isto não era o suficiente, afinal, não nos esqueçamos, ela havia sido derrotada e podia-se ver em seu rosto que ela não estava nada feliz com isto. E não podia ficar assim. Então, buscando um acerto de contas, Nádia arremete contra Caroly. Esta, por sua vez, não sei se entorpecida pelo gozo da vitória, ou avara de outras posses: por que apenas uma almofada?, havia mais outra lá totalmente disponível. E, oh!, não bastasse isso, cai do céu ainda mais uma. Pronto! Já ouviram falar em “calcanhar de Aquiles”? Sim, Caroly se deixa levar pelas tentações e comete a distração suficiente dando ensejo a que Nádia cumprisse seu maligno intento. Virou o jogo. Caroly então, desesperada, arremata a almofada mais próxima a si, mas que agora valia simplesmente nada, e na sanha de não se inferiorizar objetiva mais uma: OK! Duas almofadas cada uma. Ao menos ficaria em pé de igualdade com sua oponente. Pobre menina ingênua. Qual não seria sua surpresa quando Nádia,veperina, abandonando as almofadas que possuia e, numa avalanche de corpo, tangenciasse seu trajeto, frustrando seu plano.
Eis, amigos, a vida como ela é: sejam quantas forem as almofadas este é um mundo pequeno demais para duas bundas. E toda essa saga de paixão e dor, todo o retrato dessas vicissitudes humanas, metaforizados pela ação corporal e sem palavras de duas atrizes num cenário composto por quatro almofadas.
Não é supimpa?

Bale pueblo!
Júlio.

sexta-feira, 15 de maio de 2009

Rainha(s)…
Mulheres, disputas,

rancores, ironias, corações.

Fantástico, ou melhor, Fantásticas!!

Duas atrizes em cena (Isabel e Georgette) que promovem sensações e me parece querem atingir o público...provocar. A peça dirigida por Cibele Forjaz mescla passado e presente sem fugir do clássico de Schiller. Cenário simples, mas ao mesmo tempo requintado; camarim montado em ambos os lados do palco e ao centro um labirinto no chão no qual as atrizes e (as rainhas) se “perdem” e se “acham”.

Assunto/argumento tenso e áspero do clássico que envolve a trama das rainhas Maria Stuart e Elizabeth I (mulheres com desejos e angústias, bem como as atrizes) é articulado ao presente de rivalidade e disputa das duas atrizes em cena, tudo com muito bom humor. As atrizes são ao mesmo tempo personagens delas mesmas, além das personagens (rainhas). O que se vê é um intenso jogo de cena repleto de provocações entre as duas rainhas/atrizes e a nós platéia.
O público (das atrizes) e o privado (das rainhas) dão o toque e marcam a montagem. Outro aspecto marcante é o canto e o corpo. O canto das atrizes é acompanhado pelo som de um pianista ao fundo no centro do palco. Há momentos em que as cenas entre as rainhas ficam meio longas e dão um ligeiro cansaço, mas nada que prejudique intensamente a criatividade da montagem e a atuação das atrizes; se peca, peca pelo excesso na linguagem das cenas das personagens rainhas. Aqui penso que a montagem apostou bastante no entendimento do público sobre o clássico; o que me parece não ser a realidade (?!)
Há cenas em que Georgette dá show de interpretação, andando/correndo em círculos numa fala intensa e frenética que mescla com pequenas pausas, com roteiro forte, crítico; impossível nesse momento a platéia não ser contaminada pela sua energia (eu fiquei cansada por ela, que pique a mulher tem, incrível) e pelo roteiro que diz de nós freqüentadores dessa modernidade toda que nos tira o fôlego.


Para o que nos interessa em nosso trabalho, penso que a forma como na montagem é agregado elementos de voz e do corpo em cena, é mesmo interessantíssimo assistir a peça; valeu a solicitação Paula!! O trabalho não é nada estático, as falas são permeadas por muito, muito mesmo trabalho de corpo. As atuações das atrizes certamente não saem tão cedo da memória da platéia. Mesmo falando de rainhas, de disputas, guerra, a peça é sensível, singela.
Ah!! Quem não viu, vale a pena ver!!
Bjos
Lê Viscovini

O branco no vermelho e o vermelho no branco

Sobre "Rainhas".

Disputas podem ser terríveis. Entre duas mulheres então, nem se fala.

E o coração, onde está?
Na atriz apaixonada? Na super-dona-de-casa pós moderna? Na rival, que é tão melhor e tão pior que você? Ele está trancado no escuro, mas não apagado...e está solto e poderoso, mas não tem luz...
O conflito é tão grande que a morte soa como uma saída inevitável. A morte dela, ou a minha. O importante é florescer de novo.

Da primeira vez que assisti, quis matar Elizabeth, pensando em mudar a História, simbolicamente. No entanto, na votação, Mary Stuart foi quem ganhou, para perder a cabeça. Dessa vez, votei em Elizabeth de novo, por curiosidade de vê-la morrendo, já que vivenciara a outra versão. E ela ganhou.
Mas Elizabeth não morre. Segundos antes de ter sua cabeça decepada, ela se levanta e reverte a situação. "Eu te perdôo" e "Não me faltarão lágrimas para te chorar" vão estar sempre saindo das mesmas bocas.

Os climas mudavam inúmeras vezes, com quebras mesmo. Da tensão maior ao mais descontraído comentário. Gostei de como essas mudanças se deram na voz das atrizes rainhas. No começo, um tom de ansiedade e insegurança, quando chegam atrasadas. Um tom mais chamativo, mais agudo, quando se provocam. E uma voz mais grave e cortante na raiva que se segura.

E em momentos mais profundos, a voz chega a sussurar, a ficar fraca, quase doce...pra no segundo seguinte sair berrada, quase não humana. Tremi na cadeira!

O piano dava suas músicas, que elas acompanhavam cantando. Mas em outros momentos, ele apenas dava notas dissonantes, tortas, para pontuar certas situações. Às vezes formava uma pequena base. E as vozes, mesmo faladas, continuavam interagindo com o piano, de maneira bem sutil.

Os olhos também me chamaram muito a atenção. É interessante obervar uma das atrizes enquando a outra está falando. Quando uma chega se apresentando freneticamente, rodando e rodando, a expressão no rosto da outra é incrível. Um jeito de olhar cheio de veneno, inclusive para aqueles da platéia que riem. A boca comendo a maçã com desdém, como se comesse essa que se apresenta e é uma ameaça. Acho que ela não digeriu-a até o final da história.

A improvisação de Georgette Fadel com seu torcicolo para deitar no chão e o salompas na nuca foi ótima. A gente dá um jeitinho de lidar com o corpo em cena, apesar dos seus pesares...

Saí do teatro novamente tocada...desnorteada!

Lilian.

quinta-feira, 14 de maio de 2009

"A gente tem fome de quê? A gente tem sede de quê?


A gente não quer só comida, agente quer comida, diversão e arte.

Extra Extra: Chineses posam diante da foto de Mao Tse Tung, compram grilos e passeam com seus pássaros




















Elenco: Claudia, Márcia, Paulo, Marcos, Julio, Nelson e Danúbia.
Dois grilos e um pássaro (representados por Paulo e Danúbia; Júlio, respectivamente) ficam expostos numa galeria com seus respectivos ruídos. Um casal (representado por Márcia e Claudia) entram em cena passeando pela galeria de variedades. Primeiro fascinam-se pelos bichos, observam-os, até que uma delas (Márcia) pega o pássaro, este, fica em seu ombro, agitado!

A outra (Claudia) vai em direção aos grilos e os compra.

Felizes e com a bicharada toda seguem em direção ao quadro onde está a foto de Mao Tse Tung (revolucionário Chinês representado por Nelson), ficam a comtempla-lo. Neste momento chamam ansiosas um fotográfo que passa pela galeria (representado por Marcos), fazem sinal para que tire uma foto da pose que fazem, os bichos gritam, desesperados!

O fotógrafo se prepara, elas ficam estáticas - mas sem esconder a ansiedade e festividade do momento.

Ao sinal das mãos do fotógrafo (imitando um flash) a foto é tirada.

Os Grilos e o pássaro hipinotizam-se calados!

É o final da cena.

Danúbia

quarta-feira, 13 de maio de 2009

manchete 2

"Peixe adota lei da mordaça até domingo"









Elenco: Jailson, João, Kéroly, Lenir, Nádia



Jailson, João, Lenir e Nádia saem do público com barulhos de "glup" e deitam no chão embaixo do palco imitando peixes, Kéroly com sua vara de pesca leva o público para o palco e induz o público a jogar pedaços de jornal, como se fosse comida para os peixe. Kéroly começa a pescaria, Jailson quer moder a isca, mas os peixes não deixam e o amordaçam, impedindo que ele seja fisgado. Kéroly então desisti da pescaria e vai embora.
"Vitória dos peixes"

Nádia

Rainha(s) - duas atrizes em busca de um coração

Gostei muito do jogo com a platéia, mostrando os bastidores, descobrindo os camarins, quando estava me emocionando vinha o corte, então voltava para a realidade.
Se o mundo é regido pela energia feminina, "Rainha(s) - duas atrizes em busca de um coração" é uma ode ao universo feminino e ao trabalho de atriz. Um convite à reflexão ao combustível que move as mulheres, não importando sua origem e localidade, tanto para semear o seu redor quanto para explodir a si mesma e os que a rodeiam.

Nádia

terça-feira, 12 de maio de 2009

Rainha(s) duas atrizes em busca de um coração

http://www.youtube.com/watch?v=XRi5yPlRZJ8

Para quem perdeu esse magnífico espetáculo .

Claudia Sarro

Adaptação muito interessante de Mahagonny com Commedia dell Arte:

ARAPUCAIA

Datas: 10, 17, 24 e 31 de maio
Horário: 12h
Ingresso: Gratuito (ao ar livre, em caso de chuva, não haverá espetáculo)
Local: Pça. Dom Orione, Escadaria do Bixiga.

Ficha Técnica
Direção: Magê Blanques
Direção Musical: Luciano Carvalho
Elenco: Erika Coracini, Rebeca Braia, Wilson Mandri, Lu Maia, Gabriel Vilas Boas, Thiago Henrique, Bruna Amado, André Telles e Adriana Mioni
Figurinos: Magê Blanques
Criação e Confecção de Máscaras: Ivanildo Piccoli

www.fortecasateatro.blogspot.com

Nádia

quarta-feira, 6 de maio de 2009

Proposta de espetáculo

Título: Fundação da cidade de Mahagonny / Bertholt Brecht
Assunto: Teatro alemão - Séc. XX.
Gênero: Tragicomédia.
Resumo: A peça relata a história de Mahagonny, uma cidade fundada por três presidiários fugitivos (Willy "o Procurador", Moisés Trindade e uma "mulher louca por dinheiro" Leocadia). Eles criam Mahagonny para ser a cidade dos prazeres, onde tudo é permitido, tudo se compra, se tiver dinheiro, mas se deixar de pagar as contas, é morte certa.
Personagens: 15
Outras informações sobre os personagens: 7 homens, 8 mulheres e um côro.
Num. de cenas: 20
Ambiente: Uma região deserta, projeção da vista de uma cidade gigantesca, fotos de uma multidão de homens, um hotel, estrada perto da cidade, um quarto, um ringue de box, um tribunal e uma rua

Visão Artística: Se baseia na necessidade em trazer a reflexão temática de MAHAGONNY para os tempos de hoje. A "cidade arapuca", "paraíso", a "cidade de ouro" ou mesmo a "cidade dos prazeres" é posta em xeque no momento em que tudo se volta para o dinheiro. Desta forma propõe-se um paralelo com nossa sociedade capitalista de consumo dirigido onde quem tem dinheiro desfruta dos prazeres mundanos, quem não tem entra para o quadro da desigualdade social e miséria crônica.
Procuraremos trabalhar a "semântica corporal" dos atores de modo que estes apresentem os dois lados da proposta da peça (tragicômica), ou seja, o desfrute das coisas mundanas (sexo, bebida, mulheres) e por outro lado a visão da miséria e da condenação pública e taxativa por não ter dinheiro.

Proposta:
Figurino: Roupas normais (calça, camisa); acessórios luxuosos
Cenário: Cabaré (um bar), a escolha do canário tem haver com a proximidade do elenco com o público.
Iluminação: Luz baixa (vermelha)
Música: Ao vivo

Ficha Técnica:
Direção: Lilian
Cenário: Danubia
Figurino: Nádia
Iluminação e Sonoplastia: Jailson
Direção musical: Júlio e Paulo
E grande enlenco

Estréia ainda não definida.

Nádia

sábado, 2 de maio de 2009

Boal

Falamos de Boal hoje. Cheguei em casa e vi na internet essa notícia:
"O diretor de teatro, dramaturgo e ensaísta Augusto Boal morreu na madrugada deste sábado no Hospital Samaritano, do Rio de Janeiro. Ele tinha 78 anos."
Evoé Boal! Que Dionísio o receba com festa!

Emerson Rossini

sexta-feira, 1 de maio de 2009

Terceiro Dia

Atores: Claudia, Daniel, João
Objetos: pena de TNT, folhas de pinho

O público é conduzido com um chamamento ritualístico até o local da cena.
A cena começa : o doente é trazido até o curandeiro que inicia a pajelança utilizando-se da pena e das ervas para benzer.O doente , em transe, está no chão e cercado pelos outros membros da tribo, mas não reage às rezas curativas do pajé .Então os índios (platéia) são convidados a iniciar um ritual xamânico ao redor da árvore enquanto o doente vai aos poucos retomando a consciência e finalmente se levanta para participar da dança.

Na Linha do Tempo.

Descobri o meu pé, o meu próprio pé. Caminhei entre ossos e músculos. Descobri!
Com os pés no chão, agora, caminhei no mundo. O chão é a principal fonte de energia, o chão é o começo de tudo, os pés são continuação.
Plantar a alma e tirar os pés do chão, voar alto fixado ao chão.

Cantar o (em nome?) nome, ritmado.
Olhar o outro.

Em roda a Dança dos Ventos;
Em roda a confraternização;
Em roda o jogo, a improvisação.

Respirar é viver por isso é preciso respirar bem.

Descobri a minha coluna no outro. A minha parceira, Raquel, é generosa, tolerante e sabe sintonizar as energias.

Em pé, cresci.

O exercício cansativo exige de mim concentração, ao comando do mestre eu tento alcançar o clímax.

Permito que meu corpo e o meu espírito entrem em um buraco fundo, escuro e vazio, e ali, no grande vazio surge uma espécie de New soul, e eu sou eu de verdade.

É muito difícil descobrir e muito fácil inventar, principalmente quando sou o dono das minhas emoções e escolho as minhas aventuras.

Saudação ao Sol;
Respirar o Mundo;
Pegar o objeto, sentir, ser.

Rocha Farias.

Loverboy

(Diogo, Nelson, Raquel)

objetos: garrafa, imã de geladeira e prisilha.

Cena:
Raquel com a garrafa e Nelson com a prisilha, conduzem a platéia; Diogo está agachado no espaço cênico apresentando o objeto.

Raquel coloca a garrafa num banco que está no espaço e Nelson se posiciona ao lado, como se fossem duas mulheres esperando algo ou alguém.


Com o imá em mão, Diogo vai em direção às moças (garrafa e Nelson) como se o´objeto fosse uma moto. Começa a chamar a atenção com o som da moto e uma das moças (Nelson) reage correspondendo. Os dois ficam num jogo de se esquivar. Raquel manipula a outra moça (garrafa), colocando-a na garupa da moto. Saem os dois. A moça que fica (Nelson), vê os dois sairem e tem um ataque de histeria. Recompõe-se e acaba a cena.


por diogo

quinta-feira, 30 de abril de 2009

Cena 5

A menina na janela

Elenco: Kéroly, Márcia e Nádia
Objetos: flor, pedaço de tijolo, maço de cigarro vazio e amassado.

Todas do grupo estão misturadas ao público, quando Nádia coloca o pedaço de tijolo nos olhos e chama o público para a entrada da Câmara de Cultura, coloca o tijolo no chão, abaixa-se e começa a olhar pelos buracos dos tijolos.
Kéroly e Márcia estão em pé nas portas, Márcia passa e deixa cair a flor e troca de porta, em seguida Kéroly passa e joga o maço de cigarro e troca de porta, enquanto isso Nádia observa pelos buracos do tijolo, e também chama algumas pessoas do público para olhar também, alguns aceitam e olham.
Márcia passa pega a flor, depois Kéroly chuta o maço de cigarro, limpando o lugar, então Nádia pega o pedaço de tijolo coloca nos olhas e vai para rua.

Acho que foi isso!
Nádia

quarta-feira, 29 de abril de 2009

Tempos Modernos.

Grupo: Danúbia, Ana e Jailson.
*****
Objetos: Garrafa, Tampinha de Garrafa e uma Caixa de Papelão.


O convite ao prazer de assistir as cenas.


Linha de Montagem.
Ao sinal da sirene grupo entra em cena como operários de fabrica. Batem o cartão, representado pelas mãos, e se posicionam na linha de montagem. Ana fabrica a garrafa, Danúbia tampa a garrafa e Jailson embala a garrafa. Essa ação repete duas vezes. Na segunda vez Danúbia fabrica a garrafa, Jailson tampa a garrafa e Ana embala a garrafa.
Ana deixa a garrafa no canto da sala e o som da sirene anuncia o fim da primeira ação.
Os operários batem o cartão e saem pela porta.

*****


Oh PutZ PutZ Peraê!
Grupo entra em cena desta vez como consumidores. Em uma balada eles dançam e bebem. Utilizam e depois inutilizam os objetos.


*****


O Objeto.
Agora como pobres estudantes de teatro o grupo entra em cena, desta vez para encontrar os objetos para aula de teatro.


*****


Fim!


Rocha Farias.






Cena "Sueca"

Feita pelo grupo: Lenir, Lilian, Raíça e Paulo.
Objetos: pedra, garrafa de whisky, pedaço de madeira, potinho.


Todos do grupo começam juntos, encostados através das costas, brincando e fazendo sons com os objetos. Dessa maneira, locomovem-se até o palco, chamando o público para subir junto. O público se acomoda em almofadas que formam um círculo.
Começa uma brincadeira do grupo dentro deste círculo, a partir dos objetos. É preciso acertar a pedra dentro do potinho, que está em cima do pedaço de madeira. Quem errar, dá um gole bem dado na garrafa.
Faz-se uma rodada completa entre os jogadores, até que quando vai-se iniciar a segunda rodada, um dos participantes rouba a garrafa e sai correndo. Os outros o seguem, com exceção de um que fica para trás recolhendo os objetos do jogo.

Issaí!

Besos
Lilian.

segunda-feira, 27 de abril de 2009

A fala sobre o corpo

“A fala sobre o corpo é uma fala-no-corpo sobre o corpo....
Corpo prévio a todo discurso,
porque o discurso é obra – poiética – do corpo-falando”
(Almeida, 2001, p. 27).

Ousemos falar do corpo. Talvez possamos nos arriscar a dizer sobre ele como se fora dele existíssemos ou sendo apenas uma fala provisoriamente sem corpo.
O que é um corpo afinal? Um homem? Como ele nasce? O que ele é? Seu prazer, medo, impulso, seu realizar, sua historicidade. O caso é que ele carrega muito mais do que somos capazes de abarcar, mas importa dialogá-lo, interpretá-lo e torná-lo de dentro-fora-dentro corpo vivo, corpo presente, corpo falante.
E eu sou um corpo! O que sou, fui, foram, há, está impresso em mim e manifesto em corpo. Minha forma, meu gesto, meu riso, meu saber das coisas, meu perceber do mundo, meu dizer no corpo, meu dizer do mundo no corpo que fala aos outros corpos.
Sem pensamento possível que alcance-o, existem palavras que o indicam, no mais: intuição... Poiética! O corpo é, eis o conceito, assim, meu e seu corpo são. Corpo imponderável. Sem linguagem possível que o defina ou que o capture, exceto a linguagem silenciosa dos corpos sendo, existindo, e no vivido dizendo o que, como, quando e porquê são.

Guimarães.

sexta-feira, 24 de abril de 2009

Encontros

O Descobrimento
Meus pés são fantásticos! É impressionante o domínio que eles têm sobre o meu corpo, tantas atividades rotineiras que são impulsionadas pelos pés e, geralmente, não damos valor nenhum a eles. A partir deles posso andar, correr, girar, pular, parar, me equilibrar e até mesmo desequilibrar (esse é mais difícil quando pensado).
A prática do grupo: Um anda todos andam, um para todos param, foi difícil de sintonizar, mas depois de algumas repetições já era possível sentir com naturalidade quando alguém iria parar ou andar. Algumas vezes parecia ter uma freqüência, mas acho que percebemos e começamos a deixar as ações mais espontâneas.
Forças do Movimento
Que o solo possui energia todos sabem, mas sentir essa energia requer concentração, a sensação que nos provoca é maravilhosa, vale muito a pena experimentar.
Retirar forças de diferentes partes do corpo parece idéia absurda, mas funciona, só que para funcionarem bem é necessário muita concentração, é um tanto complicado ficar enraizado com alguém te puxando o tempo inteiro. Nessa prática foi difícil conciliar a mente e o corpo para “vencer” as forças externas.
Trabalhando com a música foi bem notável a sintonia estabelecida entre o corpo e os ritmos. Isso porque era estranho ficar parada em um ritmo agitado e o contrário também acontecia, os movimentos ficavam mais tímidos quando não tinha música.
Sensações
Quando estamos no comando tudo flui melhor. Ao movimentar um boneco ou um objeto podemos pensar em milhões de maneiras diferentes, ousamos. Já quando temos de ser um boneco ou transmitir os movimentos de um objeto, há certo “receio”, são ações não planejadas por nós, coisas que o nosso corpo não está habituado a fazer, por isso é um pouco mais trabalhoso e assustador (na hora de ser um boneco).

Carolina

Quad, Samuel Beckett



diogo

Retratos

I.

.. começamos pelos pés. nosso Atlas. o tocamos, massageando-o; conhecendo-o. fazendo dele algo vivo. (lhes dávamos alma.) mexíamos na massa informe, por cada músculo e osso. estava pronto.

.. o pé vivo ao nosso corpo agora tinha que habitar. precisávamos dar-lhe lugar. (uma origem.) colocávamos os pés no chão para que aquele possuísse esse; para que a árvore abortada se enraizasse no chão de concreto. para que possuísse o fosse possuído pelas energias dali.

.. bola-mundo: o pé movia o corpo. cada gesto nascia do baixo. cada movimento partia do pé.

.. andar corpo-pé.

.. o corpo existia a partir do pé. (!)

***

!com corpos vivos, experimentávamos olhar com o olho da nuca: um anda, todos andam. um pára, todos.

!flechar-se não pára ferir, mas para tocar.

!pega-pega de nomes (tocar-se pela evocação, pela aparição do outro.)

!canto de celebração: A dança dos ventos

: corpo-em-cena: improviso a partir dos movimentos. (!VIDA!)


II.

nascimento da coluna. coluna existindo através do toque - moldar o que existe para que este exista.
espreguiçamento do corpo - no chão, em pé e no a!r.
corpo ancestral: andar do velho japonês: estimulado pelo outro e, em seguida, só. (como se morre.)
enraizamento em dupla (como existir junto? -------)
pendulo (existência em trio)

:(meu corpo vicia ao estar em modo contínuo; na descontinuidade dos movimentos, ouso; mas sem que o corpo pare: as partes ganham autonomia, e o corpo torna-se indivíduo):


III.

§.saudação ao sol
§.respirações . ¬elas se movem no espaço-corpo!
§.manipulação dos objetos. ¬como posso sentí-los além do convencional (?)
§!ser o objeto - mas do modo que o outro o manipula!!!

(à medida que o exercício de respiração acontecia, percebia mais meu corpo. e a pergunta que se fundava era: "como respiro corretamente?" meu corpo respondia à questão, mas não de modo a fechá-la, mas abrindo para outra geografia:

Como eu respiro? )

********

Por que o teatro? (pergunta-britadeira-em-moto-contínuo)

leitura: quais os critérios (?)
leitura: lendo um espetáculo teatral - mosqueando a Gaiola
leitura: vocabulários verbal & gestual.

O que é ler: definições poéticos-dicionárias.

--------------------------------------------------------------------------------------

Obs.1: outro: sou eu
Obs.2: I. 28/03/09; II. 04/04/09; III. 18/04/09.


diogo

O que se pode fazer com um corpo

por exemplo ser... outro.




diogo

terça-feira, 21 de abril de 2009

Virada Cultural

Olá queridos!
Segue o link com a programação da Virada Cultural de São Paulo.
Olhem e aproveitem!

http://viradacultural.org/programacao/

Paula

domingo, 19 de abril de 2009

Video "Doll Face"

Assistam o vídeo, o contexto não tem nada a ver com o nosso processo, mas reparem nos movimentos do vídeo, a caixa que se abre, a alavanca a boneca que sai da caixa e os "braços" dela, existe uma delicadeza na ação e uma clareza na interpretação. espero que gostem!

http://www.youtube.com/watch?v=zl6hNj1uOkY


Rocha Farias.

sábado, 18 de abril de 2009

sexta-feira, 17 de abril de 2009

Gaiola das moscas

Desculpem só agora aprendi a postar, acreditem!

Mas vamos ao que interessa
Simplesmente emocionante, de um lirismo tão distante dos dias atuais e ao mesmo tempo um tema tão atual e universal "A luta pela sobrevivência".
A expressão corporal dos atores nem se fala, existia um fio condutor que os ligava, em parceria com a música, parecia uma coisa só "música, corpo e movimento".
Vi a base nos pés, como aquele exercício que tanto exploramos, vi um trabalho de partitura, o caminhar juntos, o impulso que partia de um ponto e contagiava todo o resto.
Paula você acertou na indicação, pois o espetáculo tem muito do que estamos explorando .

Nádia

Corpo de Baile

47 do segundo tempo.

quase no final do começo do final da semana, venho, por meio desta, executar minha tarefa de casa. pois bem, vamos nós.

começa o espetáculo, os atores já iniciam atrás da cortina. como uma família hospitaleira de uma cidade interiorana que recebe (ou chega?) seus convidados. nos cumprimentam e seus cumprimentos me atraí por uma única coisa: a qualidade da presença. eu via corpos acesos.

eles estancam. olho para cada um e me atento às suas bases: o pé. fincadinho no chão do palco. cada um a seu modo - o que lhes davam individualidade (que provavelmente se reflete no modo que foi construído e constituído o trabalho.) enraizamento.

a peça de fato começa. o homem solta sua voz e sua fala compõe o corpo que a comporta. dançam voz e corpo; a flauta e a serpente.

ainda havia a outra música. esta era externa ao corpo, mas interna a estória (grafia autorizada por moi!) às vezes esta encantava por demais. às vezes, nessas horas, me perdia da estória. mas voltava à ela e lá estava: ainda corpo. ainda a voz.

a briga: uma briga dançada ou uma dança brigada? a fluidez fez o mistério de tostines; o ovo ou a galinha? - silêncio meu.

movimentos variáveis, que se alternavam de acordo com a contação, de acordo com o que a estória pedia. movimentos tensos, repentinamente relaxados, grandes e logo miúdos, frenéticos e de repente: stop.

falem agora (eu comigo, me dizia): e diziam. respiração normal. (que tipo de controle esses "atletas afetivos" alcançaram, dentro de suas trajetórias pessoais e coletivas?) com todo esse corpo de baile, a voz estava lá, nítida, presente. incansável.

uma estória me era contada. e a sei. pergunto-me agora: que estórias podem nos contar um corpo?


diogo

terça-feira, 14 de abril de 2009

Impressões...aquilo que fica marcado

Para alguns dispensadas apresentações, aos demais: olá, sou a kelly, e não fui ao espetáculo, portanto nada posso dizer a respeito dele, mas sim de minha impressão das impressões de vocês. começo parafraseando um professor meu: falamos do lugar onde habitamos, trazendo nos pés a poeira dos outros lugares por onde temos passado, assim as ligações feitas e os incômodos de vocês, ressoam do lugar de onde habitam e de como habitam este lugar, de modo que as leituras tantas do olhar lançado traduzem quem são e de posse de que estão, como viajantes de malas cheias, fazendo trocas nesta viajem, permitindo, que até mesmo eu, porém muito mais os caminhantes de sábado, possam habitar junto. sem esquecer o prazer, vocês transitaram pelos aspectos cênicos, mas em especial, me disseram sobre o que os afetou, "o que isto diz a mim, ao meu mundo, ao meu habitar?", não apenas em texto, mas em obra (corpo, jogo, voz, luzes, platéia). penso ainda que os relatos valem o esforço e oferecem mais "cal" para o processo, é bom levar o entendimento para vasculhar espaços da percepção, não como críticos técnicos, mas como ad-miradores atentos, e é um tanto interessante imaginar o que lá havia a partir de vocês, embora se lá eu fosse não perceberia o mesmo, pois que cá eu ando falando de outros lugares... com abraço.
K.Guimarães

sábado, 11 de abril de 2009

Gente, consegui, finalmente, entrar, obrigada Paula!

Bem, o espetáculo Gaiola de Moscas chamou minha atenção nos seguintes aspectos:
Entrosamento: os atores e músicos em cena pareciam mesmo um bloco só. Como no começo onde cada um se apresentou. Eles estavam entrosados, emaranhados, levados por um objetivo em comum, que deu ao espetáculo, um toque muito especial.
Música: música ao vivo é tudo em um espetáculo né? Que coisa gostosa ver a sonoplastia fazendo parte do espetáculo como se fosse dialogo.
Dança: o movimento da dança nesse espetáculo trouxe um item a mais que mostrou, além de uma dança regional, uma forma de interação de texto, personagem e movimento. Os braços das meninas foram prolongamentos de um momento poético, trouxe leveza, ternura, sonho, sentimento que estavam estampados do sorriso até o dedo que se mexia lentamente.
Comédia: apesar do título do espetáculo nos arremeter ao Gaiola das Loucas, o espetáculo teve uma comédia sutil, desde o escarro milagroso até o momento da apreensão e utilização das moscas nos enterros como as únicas criaturas que pudessem sofrer no velório de alguém, mostrou que pra fazer algo engraçado, não é necessário que a platéia ria o tempo todo. A história teve momentos de critica, reflexão e comédia. Em doses, no meu ver, perfeitas.

Beijos pra todos.
Cristiane

sexta-feira, 10 de abril de 2009

Aspectos da Cultura Popular na Peça "Gaiola de Moscas"

Devo confessar que a “lição de casa” solicitada foi por mim “quase” esquecida quando me deparei na peça “Gaiola de Moscas” com tantos aspectos da Cultura Popular: na linguagem, na dança, na música. Meu olhar se direcionou muito para isso, tão marcante foi na narrativa esse aspecto. Falou mais alto por um momento em mim esse encontro. Em épocas globalizantes, é sem dúvida de grande importância o “resgate” do que é genuíno na terra local e ao mesmo tempo tão esquecida - a cultura popular. Nesse sentido, pontos consideráveis para o trabalho desenvolvido pelo grupo Peleja.

Ainda que o conto adaptado pela peça seja do Moçambicano Mia Couto (genial!) cabe direitinho no repertório do Brasil/sertão, pesquisado pelo grupo. Lembrou-me inclusive, o contexto da peça e da história, que não é por acaso que o escritor Mia Couto é comparado com um nosso outro grande escritor, Guimarães Rosa. Ambos trazem em suas obras poesia e esperança por meio da capacidade narrativa de histórias contadas por seus respectivos protagonistas na dureza da existência humana.

Mas, se por um lado o meu olhar não foi num primeiro momento, tão teatral, no sentido técnico, seria impossível com as vivências que estamos tendo com “a poética do corpo”, (que o meu me faz lembrar a cada final de semana, por meio das dores) não perceber o quanto na proposta do grupo está intensamente presente a expressão teatral corporal dos atores. Acho que de certa forma todos puderam ver algumas vivências que fazemos sendo utilizadas no palco. O corpo “fala” e o ritmo conduz atores e platéia no encontro da narrativa proposta. Em diversos momentos a encenação me lembrava algo meio “brincante”, como se fosse um convite para que brincássemos também; que nos permitíssemos brincar...ainda que a temática não fosse brincadeira, mas isso só pude perceber mais tarde. Em alguns momentos, para mim, a “brincadeira” ficou meio igual e alguns risos diminuíram (inclusive o meu). Isso de forma alguma tira o mérito da proposta e da atuação dos atores; até porque penso que o riso pode não significar muita coisa. Podemos inclusive afirmar: apesar do elemento cômico sendo explorado o universo temático da peça era bem triste.

Penso ser de grande valor a busca por aquilo que cada vez mais em cidades como a que vivemos é esquecido, o brincar o criar/imaginar, bem como o satirizar a miséria da vida na magnitude da possibilidade da existência em condições tão adversas, onde compramos moscas para nosso velório. Não seria uma forma de resistência a pretensão dos personagens em se virar como dá? Quem sabe? Por que não? Ainda que possa ser também, evidentemente, o limite da pobreza e miséria humana. Mas sem dúvida mostra o poder criativo do povo diante da realidade complexa e complicada do viver, frente o descaso das autoridades (poder) para a possibilidade de uma vida digna.

A peça parece mostrar nas entrelinhas a dureza da vida sertaneja que reinventa/cria formas de trabalho, formas de “ganhar” a vida em local onde não é nada fácil viver (Moçambique/Pernambuco-Brasil). Se por um lado isso pode expressar o cômico/criativo (aspectos da cultura popular) por meio do cuspe (para limpar sapatos) e das moscas (para o velório) mostra também a dificuldade pela sobrevivência... a miséria. Essa realidade sem dúvida marca a vida em Moçambique, bem como a do sertão de PE/Brasil, onde o grupo Peleja realiza pesquisa em torno da manifestação popular Cavalo Marinho. Assim como a literatura de Mia Couto, o teatro, me pareceu, tentou registrar e recriar a situação desse povo, por meio de personagens como Zuzé Bisgate e Julbernardo, transformando miséria em foco do poder criativo do homem, que apesar dela, tenta viver, ou seria melhor dizer, sobreviver.

O trabalho de corpo do grupo resgatando o Cavalo Marinho, a meu ver, dialoga muito com essa realidade dura do sertão brasileiro, o que também faz, pelo pouco que conheço a literatura de Mia Couto com a cultura popular de Moçambique; a junção dessas duas coisas (Cavalo Marinho e literatura de Couto) é muito interessante na proposta do grupo. É importante notar e considerar que a brincadeira do Cavalo Marinho no Brasil é feita exatamente por pessoas despossuídas de recursos, a maioria analfabeta, marginalizada; como os cortadores de cana e pessoas que trabalham em feiras; pessoas muito pobres, carentes, mas com uma cultura riquíssima, fabulosa. Podemos dizer, para finalizar, que é uma manifestação humana que sai da mais absoluta falta de recursos, mas que devido ao poder criativo se expande e chega até nós de diversas formas, inclusive por meio de trabalhos teatrais como esse. A proposta do grupo conseguiu expressar algo singelo e sensível, com recursos corporais fortes e intensos.

(Lenir) Lê Viscovini

interrogação

Engraçado o começo do comentário da Cláudia ser sobre o riso. O texto do Mia Couto adaptado para teatro conservou a atmosfera delicada de temas pesados e o trabalho dos atores preservou a qualidade, que se espera cuidadosa, de quando é preciso falar da fome, do desemprego, da pobreza, do desejo inalcançável. O que fica é o ritmo, a música, a presença, o palco, o teatro, mas não a platéia. O incômodo que a arte provoca não foi sustentado, acho até mesmo que não foi apreendido, nem sequer percebido. O que ficou em mim foi uma pergunta: será que a gargalhada (desenfreada, descomedida e desgovernada) precisa ser sempre um sinal de julgamento de gosto?

Raíça Augusto

quinta-feira, 9 de abril de 2009

com os pés, pra entender com o coração.

Imaginem que quem está contando não conhece nada de 'cavalo marinho'. Então, como de fato eu tenho um dominio nulo sobre isso vou dizer sob este ponto de vista.

Por não ter tanta propriedade vou dizer que oque eu senti do que eles fizeram. Daquele balangar de pés agitados, que hora acompanhavam, introduziam, finalizavam a música que recortava as cenas; me foram também uma forma de narrar. Eles provocam uma forma de assistir as cenas com um olhar curioso, que pra mim foi causado por este balangar doce. E a narrativa ganha forma. Ela nos aponta quando a historia e quando o 'narrador' está se colocando, quebrando a parede e convidativamente dividindo um momento com o publico.

Mencionar que o espetáculo é leve, é doce, é sensivel. E a sensibilidade está também nessa disponibilização dos atores para um estado de prontidão da dança-encenada ou da dança-história-narrada. A proximidade com a platéia aproxima. É quase como se fossem contadores de história que atuam, sem aquela barreira de teatro platéia, muito embora o palco estruturado a là italiano estivesse lá.

Me tocou. Me cativou porque eu também chacoalhava na minha cadeira, e sem perceber eu sorria. A única coisa que me incomodou é que o texto tinha ruidos. Não sei se pela espaço, ou pela platéia ou pela terrivel mania que a gente tem que ouvir textos altos e não sutilezas, nos primeiros quinze minutos eu perdia coisas. Depois, já quente, com a plateia já assentada, ficou mais fácil, e eu ouviria, por horas aquela história de moscas.

Kéroly Gritti.

Sobre Gaiola de Moscas

Fui assitir ao espetáculo "Gaiola de Moscas" no último domingo.
Gostei.
Uma história de autor africano transposta para o interior do Brasil e narrada com corpo, dança, voz, instrumentos dos mais diversos e alguns objetos que apareciam apenas na hora em que deviam aparecer.
Gostei das sombras também. A iluminação permitia que o atores e atrizes ficassem pequenos - como são as moscas, talvez - quando na frente de suas sombras gigantestacas projetadas na parede escura.
Gostei de como a música ganhava cena e punha em cena a dança, tão discreta às vezes, em corpos que em grande parte do tempo dançavam sem avisar. Disso eu gostei muito: de como os corpos transitavam do dançar para o não-dançar ou faziam o caminho contrário de forma sutil.
Como ponto alto escolheria a coreografia da luta entre Zuzé e o Pinta-Bocas, assistida pelas mulheres que ora intervinham ora choravam. As imagens saltavam da cena! O ritmo bem casado entre a música, os passos e gestos, e a história da briga que se narrava permitiam esse efeito.
A descontração e o humor ao narrar nos faziam rir de nós mesmos, que compramos também cuspes para lustrar nossos sapatos, batom para pintar as bocas e até moscas para voarem, cantarem, chorarem ou desmaiarem no nosso enterro. Compramos quando quem nos vende vende bem. E vendemos também o que for - nossa saliva, nossa batom, os préstimos de nossas moscas - quando se faz necessário.
Por essas e outras, gostei.

Raquel Zanelatto

quarta-feira, 8 de abril de 2009

IN imaginário

A peça literalmente intrigante me despertou a curiosidade de conhecer a história contada por Mia Couto, Gaiola de moscas. A transposição do texto literário para o teatro é sempre muito diferente das “intenções’” do autor para com o leitor. (aconteceu com Clarice Lispector). Pesquisei na internet mas não encontrei o texto...quem tiver por favor!

As imagens quentes do espetáculo, os movimentos e as musicas me inspiraram para um mundo “IN imaginário” todos os momentos da peça me fizeram rir, mas existe uma tragédia oculta no contexto. A pobreza, a sobrevivência, tudo remetia um vilarejo “nordestino” onde existe miséria.

Os corpos em cenas eram mágicos, acho que é isso que devemos absorver: a qualidade, o jogo em cena...

Rocha Farias.

terça-feira, 7 de abril de 2009

qualidade dos movimentos

Um detalhe: as moscas eram presas por uma redinha por isso não "avoavam".
De fato a peça me fez rir, embora concorde que nem tudo era necessariamente engraçado e se nos "apercebermos" bem, chega até a ser um pouco triste todo aquele universo sertanejo.
O que a peça deixa de importante é sua poética do corpo em cena, sim, justamente isso. Nos trás elementos de corpo que estamos exatamente vivenciando em nossa oficina. Observar a qualidade dos movimentos nas cenas da peça é de grande valor e deve de ser bem guardado em nós, como mais um repertório de espectador.
Creio ser isso meu comentário, ou seja, para que fiquemos atentos à qualidade dos movimentos corporais, a partir daí, dessa observação de espect-atores, poderemos ter mais criatividade para por em experimentação os exercícios que fazemos, explorar mais e mais e sempre. Fim
bjo tchau
Danúbia

segunda-feira, 6 de abril de 2009

Estou até agora regurgitando o Gaiola de Moscas


Confesso que sai do espetáculo um pouco frustrada porque ouvia demoradas gargalhadas que não eram minhas. E pensei que a peça havia sido muito divertida e portanto eu havia perdido a oportunidade de rir até o fim. De fato dei sinceras e boas gargalhadas nos primeiros dez ou quinze minutos, mas depois parece que a extraordinária performance dos atores e a narrativa burlesca e divertida dos personagens já não fazia nenhum efeito sobre mim.E explico porque.
Primeiro quero deixar claro, antes que me execrem, que esse meu relato não significa jamais uma crítica em relação à indiscutível qualidade da peça, ao desenvolvimento dinâmico da narrativa, ao extraordinário domínio de corpo dos atores, à estruturação do enredo ou das cenas ou qualquer outra coisa que valha a respeito da inegável qualidade técnica da obra. Até porque eu não teria elementos ou base para isso. Mas creio que todos nós que fomos ver pudemos reconhecer , no tom geral do espetáculo, uma conexão com vários aspectos e conceitos sobre a formação do ator suscitados no trabalho da oficina .Claro que eu não saberia levantar agora assim, de cara, nesse exato momento, quais aspectos seriam esses, mas que los hay, los hay e tenho certeza que alguém o fará ( aliás, não era essa a proposta?)
Apenas falo de uma experiência de espectador. Falo mais do que de uma experiência, falo de uma perplexidade: fiquei parada nas imagens que a metáfora do título haviam me sugerido: Gaiola de Moscas. Gaiola de moscas ...! Gaiola de Moscas ?????????????????????????????????????????????????????????????????????????
O que esperar de um espetáculo com esse nome ? Uma idéia genial. Era como se essa idéia por si só construísse uma intrigante e curiosa metáfora e qualquer argumento, narrativa, ou situação representada estivesse aquém dessa idéia maior, misteriosa e soberana. Fiquei assim parada, pensando; o sujeito com a gaiola na mão (acho que pode ser que tenha perdido o fio da meada do espetáculo, vai ver a coisa é assim, menos filosófica, entende...). 
Mas, eu, se fosse diretor, parava a cena por ali. Porque imagina com que propósito um ser prenderia moscas, como passarinhos, numa gaiola... Pode imaginar a cabeça desse sujeito ? A quantas anda ? E mais ainda, pensando numa gaiola, gaiola, gaiola dessas que a gente conhece ( a mesma da mão do personagem, igualzinha a uma daquelas) por que não fugiriam as moscas pelas frestas ?
Vendo o argumento do espetáculo, a questão até parece se resolver na estrutura anedótica da narrativa e na caracterização dos personagens muito associada à figura do anti-herói.
Zuzé Bisgate, por exemplo, é cuspido e escarrado ( literalmente) o Pedro Malasartes. Uma espécie de espertalhão popular que acredita poder driblar com sua sagacidade e argúcia, as vicissitudes de um cotidiano humilde e difícil. Junto com sua mulher e o vendedor de batons boca loca ( o Victor Valentim de Pernambuco)representa o herói popular criativo e malicioso que dá um jeitinho brasileiro em tudo para se safar da pior.Mas não é um sujeito ruim, pelo contrário, ainda conserva a inocência e o sonho das criaturas , cuja identidade ainda está marcada por valores genuínos advindos de uma cultura tradicional .A linguagem , os costumes e comportamento dos personagens constroem em torno deles um imaginário mítico, quase surreal.Assim é que pode parecer factível viver de engraxar sapatos com cuspe e engaiolar moscas para vender em funerais.
Mas, mesmo assim, a idéia de uma Gaiola de Moscas parece velar, detrás de si outras possíveis metáforas, que de fato, não consegui apreender, mas intuo que possam existir. Se as moscas , mosquitinhos e tais são vendidos a precinhos baratos para nos fazer companhia no velório, minha fértil imaginação pode antever as barrinhas de metal do semi-circulo onde outrora cantavam passarinhos se transformarem em frágeis vertebrazinhas e costelas toráxicas sendo invadidas por minúsculos canibaizinhos de asas.
E a idéia de termos, ao invés de corpos, gaiolas em cena não me parece ser muito engraçada...

Claudia Sarro

terça-feira, 31 de março de 2009

Para quem gosta de ler!

Aí vão três dicas para quem gosta de ler!
-O teatro do corpo manifesto (Lúcia Romano)
O livro tem três capítulos: O teatro físico - aspectos históricos e exemplos contemporâneos; Uma história em construção ; Considerações sobre a corporiedade no teatro físico.

-O ator compositor (Mateo Bonfitto)
Esse também tem três capítulos: A codificação dos materiais; A ação física como elemento estruturante do fenômeno teatral ; O ator compositor.

-O papel do corpo no corpo do ator (Sônia Machado de Azevedo)
Esse têm vários capítulos. Vou citar alguns: Concepções do corpo no teatro, fontes e vertentes; O corpo na dança; O método de produção do ator e do trabalho corporal.

Posso imaginar que nem todos possam comprar, mas se alguém estiver interessado podemos organizar algo com meus livros.
Até breve!
Emerson

sexta-feira, 27 de março de 2009

Corpo

"o corpo é o lugar onde guardamos nossas batalhas"
-Márcia Torcatto-


e então, tornou-se algo vivo. naquele momento, quando a música percorria artérias, e se fazia glóbulos, moveram-se chãos e o abismo se fez. os pés andavam sobre nada; as mãos tentavam tocar o infinito; o corpo todo tentava abraçar os céus. a cabeça deixava-se levar.

um glóbulo cilíndrico percorria o corpo dentro. movia a ponta dos dedos que precedia o toque. percorria o olho antes que este pudesse mundo. percorria cada osso carne nervo veia néfrons: sinapses de êxtase.

uma alegria rompante arrebata cada mímimo de célula. cada célula podia, enfim, dizer: eu.

movimentos frenéticos: a música acelerava, as palavras tomavam o corpo e dele faziam movimento. tomavam dentro e movia fora. dolores: uma insuportável dor de parto tomava o corpo. (explosão) - (arrebatamento): profanos.

garganta seca; respiração arfante; articulações frágeis. e uma difícil alegria.

insuportável.

o corpo diminuía. queria tomá-lo a alegria, ela querendo se fazer corpo. e estava prestes a arrebentá-lo. estava prestes ao rebento, o corpo. uma estrela de mil pontas.

leveza de calvino: o corpo padece. vida.

a garganta não se sabe seca. a fadiga está aquém do corpo. movimento puro. pluma flutuando no infinito.

estado nascente: um corpo amanhece.

uma alegria. difícil.



Diogo

quinta-feira, 26 de março de 2009

Gaiola de Moscas


Aqui vão as informações sobre o espetáculo para apreciação do grupo.


Gaiola de Moscas (50 minutos– comédia - Recomendação: livre)


A divertida história de Zuzé Bisgate, Armantinha e Julbernardo é recriada num contexto imaginário, que remete a um vilarejo de Moçambique ou o interior de Pernambuco. Zuzé é um curioso comerciante, vendedor de cuspes e moscas para funerais. Sua mulher Armantinha sonha com um beijo e se encanta por um forasteiro vendedor de “pintadas” de batons. Sonoridade e música executadas ao vivo sustentam a movimentação dos intérpretes, que são “brincantes do conto” e instauram o clima vivenciado nos brinquedos populares.

Apresentações:
SENAI SÃO BERNARDO
3/4/2009
20:00
SENAI SÃO BERNARDO
4/4/2009
20:00
SESI SANTO ANDRÉ
5/4/2009
20:00
SESI SANTO ANDRÉ

Paula

quarta-feira, 25 de março de 2009

Arrufos


Olá, pessoas!

Sei que está bem em cima da hora pra divulgar, mas pra quem tiver o tempo disponível vale a pena...
A peça "Arrufos" tá passando na Escola Livre de Teatro, em Santo André e as últimas apresentações serão amanhã, em dois horários. Fiquei sabendo ontem à noite e hoje fui assistir, adorei, a peça tem um clima muito especial. O trabalho nasceu de uma pesquisa sobre as relações afetivas desde o século XVIII. São inúmeras imagens relacionadas ao amor e à coisas que, independentemente da época, continuam as mesmas. Muy belo!

Aqui está o link com as informações:


https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi58Fx7t76sKbPm9N70Peb1GIxb3SjdAJgksraHsACJz473DmONDfwiBaDOgHyC64Fz80ial4xdM4U_NBsECJVzvngIYNslT8UPEIVpDIRTzp7qzncI_d38QC161IDCFoyn0k-gdyq1Rtk/s1600-h/arrufos-filipeta-sto-andre.jpg

Um beijo e até sábado!

Lilian.