sexta-feira, 15 de maio de 2009

O branco no vermelho e o vermelho no branco

Sobre "Rainhas".

Disputas podem ser terríveis. Entre duas mulheres então, nem se fala.

E o coração, onde está?
Na atriz apaixonada? Na super-dona-de-casa pós moderna? Na rival, que é tão melhor e tão pior que você? Ele está trancado no escuro, mas não apagado...e está solto e poderoso, mas não tem luz...
O conflito é tão grande que a morte soa como uma saída inevitável. A morte dela, ou a minha. O importante é florescer de novo.

Da primeira vez que assisti, quis matar Elizabeth, pensando em mudar a História, simbolicamente. No entanto, na votação, Mary Stuart foi quem ganhou, para perder a cabeça. Dessa vez, votei em Elizabeth de novo, por curiosidade de vê-la morrendo, já que vivenciara a outra versão. E ela ganhou.
Mas Elizabeth não morre. Segundos antes de ter sua cabeça decepada, ela se levanta e reverte a situação. "Eu te perdôo" e "Não me faltarão lágrimas para te chorar" vão estar sempre saindo das mesmas bocas.

Os climas mudavam inúmeras vezes, com quebras mesmo. Da tensão maior ao mais descontraído comentário. Gostei de como essas mudanças se deram na voz das atrizes rainhas. No começo, um tom de ansiedade e insegurança, quando chegam atrasadas. Um tom mais chamativo, mais agudo, quando se provocam. E uma voz mais grave e cortante na raiva que se segura.

E em momentos mais profundos, a voz chega a sussurar, a ficar fraca, quase doce...pra no segundo seguinte sair berrada, quase não humana. Tremi na cadeira!

O piano dava suas músicas, que elas acompanhavam cantando. Mas em outros momentos, ele apenas dava notas dissonantes, tortas, para pontuar certas situações. Às vezes formava uma pequena base. E as vozes, mesmo faladas, continuavam interagindo com o piano, de maneira bem sutil.

Os olhos também me chamaram muito a atenção. É interessante obervar uma das atrizes enquando a outra está falando. Quando uma chega se apresentando freneticamente, rodando e rodando, a expressão no rosto da outra é incrível. Um jeito de olhar cheio de veneno, inclusive para aqueles da platéia que riem. A boca comendo a maçã com desdém, como se comesse essa que se apresenta e é uma ameaça. Acho que ela não digeriu-a até o final da história.

A improvisação de Georgette Fadel com seu torcicolo para deitar no chão e o salompas na nuca foi ótima. A gente dá um jeitinho de lidar com o corpo em cena, apesar dos seus pesares...

Saí do teatro novamente tocada...desnorteada!

Lilian.

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