domingo, 17 de maio de 2009

A fabulística saga de paixão e dor de duas bundas

Faço a minha primeira postagem com o propósito de registrar um momento do trabalho que, a meu ver, se revestiu de uma qualidade específica no que tange a propriedade instrumental.
Todos certamente se lembram que a orientação dada pela Paula para o improviso do sábado 16/05 foi a de utilizar o corpo como elemento poético da cena (obviamente, bem a propósito), enfatizando que não se deveria usar a palavra. Pois bem, logo com a primeira dupla (Caroly e Nádia), o que vi foi a apresentação tácita de dois corpos interagindo no espaço/tempo, aproximando-se, distanciando-se, ladeando-se, opondo-se, etc; e, me pareceu, com uma consciência muito clara das atrizes, uma adesão simples e eficaz a um possível limitado, mas dinamizado por uma reverberação interna. Quando, então, não mais que de repente, uma almofada cai do céu. E adivinhei só o que elas consideraram que aquilo fosse? Sim, isso mesmo: uma almofada! Ipso facto, as duas atrizes avançaram com suas respectivas bundas, sintomaticamente, para aquilo que agora era o objeto de seus desejos e, vupt!, a trama estava criada: DUAS bundas e UMA almofada. Sublime! Aí então (ajudem-me a lembrar os fatos), houve uma disputa pela posse da tal almofada, uma disputa corporal sem palavras mas com muita intenção, que foi vencida pela Caroly. Mas eis que, antes que a Nádia esboça-se sua reação, surgiram mais duas almofadas. Nádia, então, avançou para uma delas garantindo o seu quinhão, mas, é claro, isto não era o suficiente, afinal, não nos esqueçamos, ela havia sido derrotada e podia-se ver em seu rosto que ela não estava nada feliz com isto. E não podia ficar assim. Então, buscando um acerto de contas, Nádia arremete contra Caroly. Esta, por sua vez, não sei se entorpecida pelo gozo da vitória, ou avara de outras posses: por que apenas uma almofada?, havia mais outra lá totalmente disponível. E, oh!, não bastasse isso, cai do céu ainda mais uma. Pronto! Já ouviram falar em “calcanhar de Aquiles”? Sim, Caroly se deixa levar pelas tentações e comete a distração suficiente dando ensejo a que Nádia cumprisse seu maligno intento. Virou o jogo. Caroly então, desesperada, arremata a almofada mais próxima a si, mas que agora valia simplesmente nada, e na sanha de não se inferiorizar objetiva mais uma: OK! Duas almofadas cada uma. Ao menos ficaria em pé de igualdade com sua oponente. Pobre menina ingênua. Qual não seria sua surpresa quando Nádia,veperina, abandonando as almofadas que possuia e, numa avalanche de corpo, tangenciasse seu trajeto, frustrando seu plano.
Eis, amigos, a vida como ela é: sejam quantas forem as almofadas este é um mundo pequeno demais para duas bundas. E toda essa saga de paixão e dor, todo o retrato dessas vicissitudes humanas, metaforizados pela ação corporal e sem palavras de duas atrizes num cenário composto por quatro almofadas.
Não é supimpa?

Bale pueblo!
Júlio.

4 comentários:

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  3. rs...tão "supimpa" quanto seu olhar sobre "almofadas" e "bundas"...Gostei da síntese...a vida como ela é!!
    Bjos.

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  4. A poética da bunda em cena.... adorei!
    Paula

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